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16/02/2022 responsabilidade social

Chapecó dá passo à frente em saúde menstrual

Prefeitura irá distribuir 2,5 mil pacotes de absorventes gratuitos por mês e abre espaço para mais informação sobre a menstruação

Mais de 2 mil pacotes de absorventes serão distribuídos por mês por meio do Programa Novo Ciclo, uma ação da Prefeitura de Chapecó que deverá beneficiar pelo menos 2,5 mil crianças e adolescentes. A distribuição teve início na última sexta-feira (11), com a entrega simbólica de 600 pacotes aos representantes dos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), que distribuirão às pessoas cadastradas. Neste primeiro mês, também serão disponibilizados absorventes nas escolas para atender estudantes que ainda não estejam cadastradas.

De acordo com a secretária de Assistência Social, Elisiani Sanches, serão atendidas meninas de até 16 anos que estão em ciclo menstrual, de famílias economicamente carentes e frequentando a escola. “Além de atender essa necessidade, o objetivo é evitar a evasão escolar, pois temos relatos de estudantes que ficam uma semana sem frequentar a escola no período menstrual”, afirmou.

Foto: Prefeitura de Chapecó | Divulgação


Este dado é um reflexo da realidade de 26% das mulheres brasileiras de idades entre 15 e 17 anos que não têm acesso a absorventes, segundo pesquisa realizada pela marca Sempre Livre, em 2018. Enquanto isso, em alguns países como a Escócia, o acesso gratuito a produtos utilizados durante o período menstrual é garantido por lei. As diferentes experiências de mulheres no período menstrual foram abordadas na reportagem da edição 90 da revista Flash Vip, “Questão de escolha”.


Informar é democratizar

Por mais natural da fisiologia humana que seja, a menstruação ainda é tratada como tabu ou constrangimento. E é justamente a falta de diálogo sobre “aqueles dias” que faz com que a democratização da saúde menstrual seja um caminho ainda mais dificultoso para a parcela da população que mais necessita de educação e amparo, principalmente por conta de condições sócio-econômicas.

Para a psicóloga Karise Woiciechoski, a forma como as mulheres veem o período pode estar ligada a uma herança negativa do conservadorismo religioso, no qual a sexualidade das mulheres não é um assunto falado. “Nossas mães, avós e até muitas de nós mesmas, da geração atual, não recebemos informações sobre a nossa menstruação. Lembro que a minha mãe dizia, por exemplo, que essa era a vergonha da mulher. Tratava isso como algo que deveria ser escondido”, ressaltou a psicóloga.

Não falar sobre um assunto só dificulta a maneira de lidar com ele. No caso da menstruação, limita as escolhas entre tipos de absorvente, coletor menstrual, anticoncepcional ou DIU (dispositivo intrauterino) ao absorvente tradicional mais conhecido, mas que por vezes está fora de acesso para quem necessita. Karine Bolsoni, à época estudante de Direito, se incomodou por anos com a alergia que os absorventes descartáveis, internos ou externos, causavam em seu corpo. 

Quando começou a buscar alternativas, a forma como via e convivia com o período também mudou. Karine optou pelo uso do coletor menstrual, escolha também recorrida pela influenciadora digital Luiza Junqueira. Segundo ela, a mudança também a ajudou a conectar-se com seu corpo e com a natureza. “Por mais que a gente tenha sido desconectada disso por séculos, lá no fundo da nossa alma entendemos que aquilo faz parte da gente”, expressou Luiza.

Não menstruar também é uma opção. A ginecologista e obstetra Simone Batisti Giroldi explicou que os remédios anticoncepcionais, apesar do risco de efeitos colaterais após uso prolongado, interrompem a menstruação e beneficiam quanto à melhora da TPM (tensão pré-menstrual) e da dor de cabeça. “Cada mulher tem suas particularidades e é necessário respeitar a individualidade de cada uma”, aponta Simone, reconhecendo que cabe à mulher ter a liberdade de escolha.

Isabela Pasin, então estudante de Engenharia Civil, optou pelo anticoncepcional após conviver com dificuldade com as dolorosas cólicas, que acarretavam em vômitos e desmaios. “A menstruação tem que ser falada, não pode virar um tabu, ela precisa ser respeitada independente da sua decisão, você tem que entender como funciona e, a partir disso, decidir se quer conviver com ela ou não'', afirmou.

A iniciativa da Prefeitura de Chapecó de distribuir absorventes gratuitamente era para ter sido institucionalizada em todo o Brasil no ano passado, com a sanção da lei que cria o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. Seu objetivo é combater a precariedade menstrual, oferecer garantia de cuidados básicos de saúde e desenvolver meios para a inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde menstrual. Entretanto, o artigo que previa a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda e pessoas em situação de rua foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

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