População imunizada, desobrigatoriedade do uso de máscaras e Covid-19 podendo ser rebaixada a endemia: um cenário incogitável um ano atrás.
O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reuniu-se na terça-feira (15) com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), para discutir a possibilidade de flexibilizar o estado de emergência sanitária e rebaixar a Covid-19 à situação de endemia no Brasil. No mesmo dia, Queiroga confirmou que dois casos da variante deltacron – combinação das variantes delta e ômicron – foram identificados no Pará e no Amapá. Segundo o Ministro, "essa é uma variante de importância que requer o monitoramento".
No sábado (12), o Governo de Santa Catarina publicou um decreto que torna uma recomendação de saúde pública o uso de máscaras em locais abertos e fechados, e não mais uma obrigatoriedade. A mudança segue a mesma linha do decreto editado pela Prefeitura de Chapecó no último dia 3, e se ampara no cenário estável revelado pelos boletins epidemiológicos do Estado e município. Cenário este que se difere muito do observado um ano atrás, quando Chapecó e outras cidades do Brasil enfrentavam o colapso do sistema de saúde causado pela explosão de casos de Covid-19 e a superlotação dos hospitais.
Vacinação avançando a passos lentos, pacientes morrendo na espera de leitos e sendo transferidos para outros estados, insumos limitados e profissionais exaustos. Nos três primeiros meses de 2021, Chapecó alcançou 526 óbitos pela doença, 403 a mais do que o primeiro ano inteiro de pandemia. Se os números já são assustadores, imagine que cada um deles corresponde a uma pessoa, uma vida, um amor perdido durante este período, que foi delicadamente explorado na reportagem Especial da edição #91 da revista Flash Vip: “Quando os números se tornam nomes”.
Separados por um ano de distância, as características do contágio pelo novo coronavírus ainda são as mesmas, senão pela maior transmissividade. Em unanimidade, os entrevistados da reportagem perceberam que as ondas da doença vêm depois de grandes eventos, como festas de fim de ano, férias, carnaval ou depois que o time de futebol ganhou e houve grande comemoração. Neste ano, com a variante ômicron em circulação, o contágio foi ainda maior. Chapecó chegou a 4.370 casos ativos simultâneos em 10 de fevereiro, o maior número observado este ano. Neste mesmo dia, em 2021, eram 1.590 pessoas registradas transmitindo o vírus.
O que mais chama a atenção não é o número de casos ativos de 2022, que faz a situação observada no ano passado parecer ainda menos preocupante do que realmente foi. Em 10 de fevereiro deste ano, o número de pessoas internadas nos hospitais de Chapecó era 34. Neste mesmo dia em 2021, eram 105 internados. Após o carnaval do ano passado, os números subiram ainda mais. Em 23 de fevereiro, uma semana depois das festas, eram 3.761 casos ativos e 231 pessoas internadas ao ponto em que o prefeito, João Rodrigues (PSD), já havia admitido o colapso hospitalar no município e, uma semana depois, decretado um lockdown parcial.
Já o pós-carnaval de 2022 mostra números completamente diferentes. Ainda recuperando-se da alta de casos registrada no começo do ano, o município contabilizava, no dia 8 de fevereiro, 557 casos ativos e 23 internados. Esta redução drástica da ocupação hospitalar está diretamente ligada a outro número: a porcentagem de imunizados. A pós-doutora em Bioquímica e Imunologia e coordenadora Acadêmica da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Gabriela Gonçalves de Oliveira, já alertava ano passado sobre a importância da vacinação da população. “No caso da Covid-19, o que podemos afirmar hoje, é que a vacina diminui o risco de ficarmos em um estado muito grave da doença, e isso já ajuda em muito o que estamos passando. Quanto mais pessoas vacinadas, mais teremos o controle da transmissão”, afirmou à reportagem na época.
O fraco avanço da imunização contra a Covid-19 em 2021 fez com que, em fevereiro – pouco antes do sistema de saúde de Chapecó entrar em colapso –, apenas 3,5% da população tivesse tomado a primeira dose da vacina, e menos de 0,5% a segunda dose. No mesmo período em 2022, o número salta para 85,5% da população com a primeira dose da vacina e 79,7% com a segunda dose, enquanto a oferta da dose de reforço já estava em andamento.
Há um ano do pior momento da pandemia de Covid-19 em Chapecó, a luz no fim do túnel nunca pareceu tão visível. Sem um novo aumento de casos depois do carnaval, o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde nesta quinta-feira (17) aponta 213 casos ativos da doença e 11 pessoas internadas. O saldo total é de 70.485 casos no município, 266.379 testes realizados e 829 vítimas fatais. Mas apesar da situação estável e da flexibilização das medidas de segurança, vale manter a cautela. Ainda mais em um momento em que observamos novas variantes, recordes de casos diários de Covid-19 na China e na Coreia do Sul, e o maior número de óbitos em um único dia na Nova Zelândia, país que adotou algumas das mais duras medidas de contenção nos últimos dois anos.
Fernando Bortoluzzi
Jornalista e explorador em busca de expansão e conexão.