Home > moda > Um padrão Inalcançável
16/10/2020 moda

Um padrão Inalcançável

A moda (ainda) é para pessoas magras.

Uma afirmação bem polêmica, não é mesmo? Mas aqui entre nós, estou falando alguma mentira? Não é de hoje que questionamos os padrões de beleza impostos pela moda como a “imagem ideal”. Gisele Caroline Bündchen (a própria Gisele Bündchen) protagonizou muitas, muitas mesmo, campanhas de moda. E devemos aplaudir? Claro que sim, ela é brasileira e nos orgulhamos disso. Mas também devemos lembrar que Gisele não é nem preta, nem tem o cabelo crespo e muito menos é gorda. Ela é uma mulher dentro dos padrões enraizados por muito tempo na moda.



Ao que tudo indica, essa padronização “magra e alta” ganhou força a partir dos anos 1960, quando as modelos que antes eram apenas manequins que vestiam as roupas dos editoriais de moda para revistas e jornais, passaram a ganhar seus nomes nas publicações, como foi o caso da modelo lendária na época, Twiggy. Antes, esse era apenas um espaço ocupado por celebridades do cinema, da música e da elite. Twiggy foi a primeira modelo que aproximou a imagem de moda do imaginário de desejo das mulheres, super magra, e marcou o começo de uma nova era.

Em uma entrevista de outubro de 2014 para o Daily Mail, Twiggy afirmou: “Eu acho que algumas das modelos de hoje ficam magras demais, porque elas são pressionadas a isso [...]. Eu mesma fui ‘acusada’ de ter anorexia nos anos 60, o que era injusto, porque eu comia como um cavalo”. E então entendemos que o metabolismo e o biótipo de Twiggy, que para ela era natural, foi imposto para muitas mulheres que sacrificavam sua saúde em busca de se encaixar no padrão.

Os anos 1990 deram ainda mais força para essa padronização com a titularidade dada a essas modelos que passam a ocupar papel de celebridades, as supermodel. Garantido assim o padrão de “corpo ideal” no imaginário coletivo.


Os homens ficam fora dessa?



A resposta é não! Assim como para as mulheres, padrões de “corpo perfeito” foram impostos aos homens. Para eles, o ideal personifica a imagem do herói, forte e viril em qualquer circunstância. Os materiais publicitários de cuecas masculinas e desodorantes estão aí para não me deixar mentir.


Vamos às polêmicas!


Em 2012, Karl Lagerfeld (1933-2019), em uma entrevista publicada pelo Metro New York, chamou Adele de “gorda demais”. E não precisa fazer muitas pesquisas para perceber que Chanel é feita para mulheres magras, que vestem, no máximo, 38. Essa ideia de “preciso entrar no 38” é repetidamente vista e representada pelos filmes de moda. Em The Devil Wears Prada, Andrea (Anne Hathaway) é desdenhada por sua colega Emily (Emily Blunt), no refeitório da revista que trabalham, por ela dizer vestir 42.

E recentemente a polêmica que ganhou frisson foi com a stylist Francesca Burns, que em sua conta no Instagram “denunciou” uma experiência horrível que teve em uma sessão de fotos provando as “samples” (peças de amostra que grifes usam em suas campanhas e ainda emprestam para que revistas realizem os seus editoriais) em uma modelo, que ela mesmo afirma “vestir no máximo 36”. Em seu texto publicado na rede social ela escreveu: “Podemos fazer as ‘peças de amostra’ maiores, por favor? A modelo nesta foto é minúscula. Usa tamanho 36, no máximo. E, mesmo assim, essa calça de Hedi Slimane [diretor criativo da marca] não serviu nela. Eu tinha vários looks dessa coleção e nenhum deles coube”, contou.

Em outra parte do texto, Francesca falou sobre os problemas psicológicos que podem ser desenfreados com sentimento de imperfeição: “Colocar essa garota nessa calça fez com que eu me sentisse um lixo e fez com que a minha modelo sentisse que não é boa o suficiente.

Isso é inaceitável. Temos a responsabilidade de celebrar, empoderar e fazer as pessoas se sentirem bem”, concluiu. O que as marcas de moda querem ao mostrar na passarela diferentes corpos, se aparentemente nada mudou? Nós precisamos negligenciar marcas assim. Afinal, qual a graça da moda se não pudermos viver e celebrar quem somos e quem nossos corpos são? A ideia aqui é fazer que roupas caibam em nós e não ao contrário. Um beijo impresso e até a próxima ;)


AUTOR

Bruno Gerhardt

Colunista convidado da FV, é Designer, Criador de Conteúdo e Especialista em Moda.
LEIA TAMBÉM