Mas o que ela está dizendo agora?
Sempre ouvi dizer que a roupa fala. E eu concordo. A roupa diz muito antes mesmo que a gente abra a boca. Ela anuncia intenções, reflete humores, posiciona identidades. Mas ultimamente, confesso que tenho me perguntado: o que, afinal, a roupa está dizendo hoje em dia? Porque o que vejo é um eco – repetitivo, apático, sem alma.
Vivemos tempos de over consumo e under expressão. A estética virou algoritmo. A tendência dura 15 segundos, o look da semana é ditado por vídeos acelerados, e o estilo pessoal parece estar em risco de extinção. Todo mundo se vestindo igual. Todo mundo dizendo a mesma coisa: nada.
E isso é tudo reflexo do burnout criativo, que comentei na última edição, da dança das cadeiras entre os designers nas grandes maisons e do excesso de informação visual e estética, alimentado por uma avalanche produtiva: são cerca de 140 bilhões de novas peças de vestuário lançadas a cada 365 dias, segundo o World Resources Institute. Como criar algo com identidade num cenário onde tudo já parece existir – e se repetir?
A moda que já foi manifesto, rebeldia, arte, ironia e até protesto, hoje se tornou, muitas vezes, apenas distração. Estamos perdendo a capacidade de comunicar algo verdadeiro com aquilo que usamos. E isso é um sinal de alerta. Porque estilo não se compra – se constrói.
A pergunta que fica é: estamos nos vestindo para sermos vistos ou para sermos lembrados?
Vestir-se bem vai além do look perfeito. É sobre coerência, identidade e presença. É sobre vestir o que faz sentido, o que emociona, o que representa. Porque quando a roupa fala com verdade, ela toca. Ela impacta. Ela permanece.
Talvez esteja na hora de calar o barulho das tendências e ouvir, de novo, a própria voz. Porque quando a essência fala – a roupa responde.
Bruno Gerhardt
Colunista convidado da FV, é Designer, Criador de Conteúdo e Especialista em Moda.