Quando a repetição supera a inovação
Há tempos percebo que a moda já não me impacta como antes. A indústria se tornou uma máquina de repetição, onde a criatividade parece sufocada por um ciclo incessante de releituras do passado. Se antes a inovação era o motor da moda, hoje ela parece ofuscada pela nostalgia excessiva. O questionamento que surge é: até quando o burnout criativo vai dominar a indústria?
O burnout, um estado de exaustão emocional, física e mental, ocorre quando um recurso é utilizado excessivamente – mesmo um tão natural e renovável quanto a criatividade. E o que nos levou até aqui? Um dos principais fatores é a velocidade frenética das tendências, que surgem e desaparecem em questão de semanas. O ultra fast fashion, impulsionado por gigantes como Shein e Temu, transformou a moda em um jogo de consumo acelerado. Esse ritmo intenso não apenas desgasta a inovação, mas também promove a saturação estética e a repetição constante.
Pierre Cardin dizia: “A moda é a transmissão da civilização”. E nunca essa frase fez tanto sentido. Redes sociais como TikTok e Instagram amplificam essa dinâmica, criando bolhas onde vemos as mesmas referências o tempo todo. Nossa liberdade de escolha se torna limitada, e o efeito dominó da nostalgia faz com que revivamos, incansavelmente, elementos como as calças de cintura baixa e a estética heroin chic dos anos 90. Revisitar o passado sempre foi um recurso legítimo na moda, mas quando se torna a principal estratégia criativa, algo se perde. O que antes era uma ferramenta para romper paradigmas agora parece ser um refúgio seguro para marcas que priorizam o comercial sobre o experimental. O luxo também sofre com isso. O mercado tem testemunhado uma verdadeira “dança das cadeiras” entre diretores criativos, como Alessandro Michele e Daniel Lee, em busca de relevância e lucro imediato. O espaço para experimentação se reduz, e os designers precisam equilibrar expressão artística com a pressão por vendas milionárias.
Como quebrar esse ciclo? Desacelerar pode ser um caminho, mas será que ainda é viável? A tecnologia pode trazer novas possibilidades, desde a moda digital até a inteligência artificial aplicada ao design. No entanto, se usada de forma excessiva e sem propósito, pode levar a um novo esgotamento. O desafio da indústria é resgatar a inovação sem perder a conexão com o público. Enquanto isso, seguimos oscilando entre o déjà vu e a promessa de um futuro criativo que ainda precisa chegar.
Bruno Gerhardt