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13/10/2025 moda

Moda e Relacionamentos

O Fast Fashion das Emoções.

Tenho percebido ultimamente o quão descartáveis e repentinas estão se tornando nossas relações, em especial as amorosas. Descarta-se um coração como se houvesse abundância para transplantá-lo. A moda, sendo um espelho do comportamento humano, revela em nossas roupas quem somos, nossos desejos e até nossas inseguranças. Mas se vivemos hoje na era do fast fashion — rápido, acessível e descartável — será que essas pessoas que não nos permitimos conectar também foram parar no Deserto do Atacama? 

Assim como temos pressa para comprar peças baratas e de temporada, buscamos relações intensas, mas fugazes. O encanto inicial brilha, mas, diante do primeiro sinal de desgaste, partimos em busca de algo novo. O imediatismo que domina o consumo de moda se reflete na pressa em construir vínculos: queremos novidade constante, mas esquecemos da beleza que existe em cultivar profundidade — e em fazer boas escolhas para o guarda-roupa da vida.

Aprendemos a tornar roupas descartáveis e, ao que tudo indica, também estamos fazendo isso com relacionamentos e pessoas. Vivemos em um ciclo de substituição, sempre acreditando que a próxima “coleção” será mais interessante, mais excitante, mais perfeita. Nesse movimento, perdemos a chance de valorizar o que é único, singular e insubstituível — as conexões genuínas, o bom corte.

Mas existe também o outro extremo: a permanência no que já não serve. Assim como guardamos peças gastas e desconfortáveis apenas por hábito, muitas vezes permanecemos em relações tóxicas que nos fazem acreditar que receber migalhas já é suficiente. Normalizamos vínculos rasos e até dolorosos, como se o amor verdadeiro fosse um luxo fora do nosso alcance. O fast fashion das emoções não se manifesta apenas no descarte, mas também na aceitação do mínimo — quando merecemos muito mais.

O slow fashion nos traz outra perspectiva. Roupas feitas com qualidade, pensadas para durar, escolhidas com consciência e cuidado. Esse mesmo raciocínio pode — e deve — ser aplicado ao amor. Relacionamentos construídos com paciência, presença e propósito são como peças atemporais: não seguem apenas tendências, mas carregam significado. Amar de forma sustentável é resistir à lógica do descarte e também à lógica do conformismo. É enxergar valor na construção diária. Eu mesmo tenho peças de roupa que duram há mais de dez anos — e relacionamentos que não resistiram nem a alguns meses.

No fundo, tanto no guarda-roupa quanto na vida afetiva, a pressa e a superficialidade são, muitas vezes, tentativas de preencher vazios internos. Compramos demais, amamos menos. Procuramos na novidade — ou até mesmo na permanência do que já não nos serve — aquilo que só poderia ser encontrado na essência. A moda consciente e o amor consciente começam quando nos conhecemos melhor, quando deixamos de lado a ilusão do excesso e nos permitimos viver o que realmente faz sentido.

Assim como no estilo pessoal, conhecer--se de verdade — descobrir o melhor caimento, a melhor cor, a modelagem que mais valoriza — é sempre o primeiro passo. Do mesmo modo, nas relações, o autoconhecimento é a base antes de se entregar ao outro. 

Valorize as conexões genuínas. Voilà! 


AUTOR

Bruno Gerhardt

Colunista convidado da FV, é Designer, Criador de Conteúdo e Especialista em Moda.
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