A importância da representatividade na cultura pop.
Dizem que a arte imita a vida. Se isso é verdade, por que então é tão difícil conseguir se enxergar, verdadeiramente, na maioria das obras lançadas para TV e cinema, por exemplo? O mundo do entretenimento mudou, e a forma como consumimos as mais diversas mídias foi um grande empurrão para isso acontecer. Racismo, empoderamento feminino, LGBTfobia e machismo são assuntos recorrentes, mas ainda temos um longo caminho a percorrer no quesito representatividade na cultura pop.
Ao longo dos anos, os papéis destinados às mulheres, aos negros e aos homossexuais nas obras cinematográficas eram completos estereótipos. No caso do arquétipo feminino, dificilmente passavam de simples artifícios para agregar à narrativa da jornada do herói. Ou eram as donzelas em perigo, um interesse amoroso, a perda trágica para justificar um caminho ou a distração dessa mesma trajetória, a femme fatale extremamente sensualizada ou a louca, a megera. Aos negros eram reservados os personagens marginalizados, malandros, a empregada doméstica, no caso de super-heróis, seria sempre o sidekick, o companheiro do protagonista. Já aos gays ficava o encargo de alívios cômicos com trejeitos exageradamente afetados enquanto as lésbicas eram masculinizadas.
Não se enganem, essas representações rasas ainda estão presentes, e muito, mas estamos vendo uma crescente de produções possibilitando novas oportunidades e novos olhares sob esses mesmos personagens, concedendo suas próprias narrativas.
Se as histórias devem abordar temas do nosso cotidiano, o racismo, o machismo e o assédio fazem parte do dia a dia de muita gente. Se você não enxerga isso e faz parte da turma que considera essa discussão um grande “mimimi” ou diz ser irrelevante se o personagem ou protagonista é negro, mulher, gay, trans, asiático, indígena… Bem, considere-se parte da parcela privilegiada da população para a qual a maioria do entretenimento mainstream é criado.
Whitewashing ou embranquecimento é a expressão usada para designar produções culturais que substituem personagens de determinadas etnias (negros, asiáticos, latinos, entre outros) por pessoas brancas. Além de tirar oportunidade de atores não-brancos, esta prática reforça e perpetua estereótipos racistas. Recorrente nas produções hollywoodianas, especialmente em adaptações. no brasil não é muito diferente. a rede globo foi acusada de embranquecer seu elenco, em 2016, quando escalou a atriz Giovana Antonelli para protagonizar a trama de sol nascente dentro de uma família com ascendência nipônica. Em 2018, o ministério público notificou a tv globo, sbt e tv record pela falta de diversidade racial em seus programas e em seus quadros funcionais. Um levantamento do uol mostrou, na ocasião, que os atores negros trabalhando na dramaturgia das três principais emissoras do país representavam apenas 7,98% do total.
Assim como no mito grego, uma vez aberta, a caixa não pode mais ser fechada, o estrago já está feito. Neste caso, a reparação começa a ser feita. Para o estudante de jornalismo Briann Ziarescki Moreira, o próprio Oscar tem demonstrado reflexos dessas mudanças. Em uma pesquisa realizada em 2019, analisou a representação dos cineastas mexicanos em Hollywood, a partir dos destaques dos diretores Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñarritu e Guillermo Del Toro, que ganharam o Oscar de Melhor Diretor nos anos de 2014 (Cuarón com Gravidade), 2015 e 2016 (ambos para Iñarritu com Birdman e O Regresso, respectivamente), 2018 (Del Toro com A Forma da Água) e 2019 (Cuarón novamente, com Roma).
Para o estudante, a quebra de barreiras culturais e sociais dos três diretores é um fenômeno que mudou o cinema mundial, em uma indústria centenária e extremamente tradicional, como é o caso do prêmio máximo concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Norte-Americana. Acompanhamos essa ruptura contínua nessa categoria em 2020, com a vitória do coreano Bong Joon-Ho por Parasita e, neste ano, quando a chinesa Chloé Zhao se tornou a segunda mulher da história a levar o prêmio, por Nomadland.
“Na última década, apenas um norte-americano ganhou o Oscar de Melhor Diretor, o restante eram todos de outras nacionalidades. E isso é muito importante, ainda mais tratando-se de Hollywood. A Academia fez uma mudança em seus votantes, o que refletiu nos longas escolhidos. E foi justamente naquela fase nacionalista do governo Trump, então não podemos ignorar o que representa para o momento um diretor mexicano ganhar a maior e mais importante premiação do cinema norte-americano. Isso trouxe também uma pauta política à tona e outros movimentos como o Oscar so white – que questionou a falta de representatividade negra – e o Me too – contra a cultura do assédio e agressão sexual – ressaltaram o que não podemos mais aceitar, como machismo, racismo e assédio”, reflete Briann.
A análise da representatividade na cultura pop também foi pauta de uma pesquisa das acadêmicas de jornalismo Ana Carolina Vertuoso e Ana Laura Baldo, dessa vez sob o ponto de vista feminino. Ao fazerem um comparativo entre as últimas duas décadas, as alunas constataram o aumento da frequência de personagens femininas ocupando a posição de protagonista no arquétipo de herói em filmes populares de forte apelo comercial e grande repercussão de crítica e/ou opinião pública. Enquanto apenas 10 filmes deste tipo estrearam entre 2000 e 2009 com mulheres protagonistas, contra 42 heróis homens, houve um salto na década seguinte. Entre 2010 e 2019 foram 31 longas que trouxeram uma heroína no papel principal, apenas três a menos que os homens.

“Grande parte dos filmes de super-heróis na década passada tem essa questão de apresentar heroínas muito sexualizadas e quase todos foram dirigidos por homens. Agora percebemos não apenas elas aparecendo mais, mas tendo seus próprios arcos, suas próprias jornadas. E isso tem muito a ver com a representatividade também por trás das câmeras. Não adianta apenas querer fazer filmes de mulheres produzidos por homens, que não se importam em como representar esse símbolo”, opinam as Anas.
E elas estão certas. Não basta apenas aumentar o número de rostos e corpos expostos, mas quem realmente está contando essas histórias também faz diferença. Uma pesquisa do Centro de Estudo de Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade de San Diego, intitulada Boxed In, revelou que 42% da programação de streaming teve “protagonistas femininas solo claramente identificáveis”, entre 2019 e 2020. Quase o dobro do que os 27% encontrados em canais de TV a cabo e dos 24% dos programas da TV aberta. O estudo ainda revelou que o número de diretoras trabalhando na TV subiu para 32%, enquanto a pesquisa de 2018-2019 havia apontado apenas 15%.
Ambos os trabalhos de Briann e das Anas foram orientados pelo professor Hilario Junior dos Santos. Para o especialista em Cinema e doutor em Comunicação, a cultura pop é uma das ferramentas mais eficazes para normalizar algumas situações e comportamentos, pois é como se chega à casa das pessoas.
“Os filmes foram feitos para nós por muito tempo, para homens brancos jovens, e agora que estão ampliando isso, parece que as pessoas acham estranho ver outros sendo representados nas telas. O seu lugar de fala deve ser respeitar esse movimento, e que bom que isso existe! Não se trata de perder espaço, território ou mudar o gosto, mas respeitar. Você não gostou de Mulher Maravilha ou Pantera Negra porque não se colocou no lugar de quem isso representa”, opina Hilario.
E já que estamos falando de super-heróis, paremos para analisar também a relevância e alcance dessas produções. O Capitão América apareceu em uma história em quadrinhos pela primeira vez em 1941, dando um soco em Hitler na capa. E não por acaso, o personagem Falcão – um herói negro – apareceu como companheiro de Steve Rogers nas HQs pela primeira vez em 1969, cinco anos após a Lei dos Direitos Civis dos EUA – que proibia a segregação racial no país e a discriminação em lugares públicos – e um ano após o assassinato de Martin Luther King, um dos maiores defensores dos direitos civis. Em 2021, a série Falcão e o Soldado Invernal, da Disney+, que amplia o Universo Cinematográfico da Marvel, traz Sam Wilson, o personagem vivido pelo ator Anthony Mackie, lidando com o peso do escudo deixado pelo Capitão no final do último filme dos Vingadores. Novamente, um ano após o movimento antirracista Black Lives Matter – motivado pelo assassinato do afro-americano George Floyd, por policiais brancos – temos a pauta racial levantada pela cultura pop e um homem negro receber a herança do maior super-herói símbolo dos EUA, é um posicionamento muito grande. É um legado complexo, que vai além do manto – no caso um escudo – do super-herói. Em dado momento da série, uma pessoa chama Sam de Falcão Negro e ele corrige: “Apenas Falcão. Se eu fosse branco, você me chamaria de ‘Falcão Branco’?”.
“Não dá mais para fazer algo para um único público e sonegar outro, não tem mais como negar a existência da diversidade. Representar essas mudanças é papel das mídias. É causa e efeito. Será que a sociedade mudou e a cultura pop está mostrando ou a cultura pop mudou e a sociedade está reagindo positivamente? Talvez sejam as duas questões, mas uma coisa é certa: não tem mais espaço para quem não respeite isso”, reflete Hilario.
A representação positiva nas artes cênicas e publicidade tem forte impacto em como a sociedade vê, reage e interage entre si. Dessa forma, trabalha-se a autoestima, o respeito às diferenças, o combate ao preconceito e à intolerância. Os jovens de hoje, nascidos nos anos 2000, têm uma visão muito diferente e mais ampla da diversidade que a geração dos anos 1980 e seus antecessores, da década de 1960. Para eles, não é apenas “normal” ver uma série com um elenco diverso em etnias, corpos e identidades de gênero, é inaceitável que seja de outra forma. Prova disso é uma pesquisa divulgada pela Netflix Brasil, conduzida pela NetQuest em 2020, que para 79% dos jovens, representatividade é um fator decisivo na hora de escolher uma série ou um filme para assistir. Além disso, 85% dos entrevistados que se identificaram como LGBT+, afirmaram que o entretenimento ajudou a gerar compreensão sobre o tema em suas famílias. Entre os heterossexuais e cisgêneros, 81% afirmaram que esse tipo de personagem os deixou mais confortáveis com LGBTs de seu convívio.
Séries voltadas ao público adolescente como Sex Education e Eu Nunca, ambas da Netflix, e Euphoria da HBO, transitam nesses temas com naturalidade. Algo nada comum há 27 anos, quando estreou um dos maiores sucessos televisivos, Friends. É difícil de imaginar uma série hoje com o mesmo elenco de seis amigos, todos brancos, esbeltos e heterossexuais. Apesar de um personagem homossexual ter um eventual papel secundário – a esposa de Ross (interpretado por David Schwimmer) que o deixou para assumir um relacionamento homoafetivo –, o assunto só vinha a tona em forma de piadas, especialmente nas primeiras temporadas, quando a sexualidade de Chandler (Matthew Perry) era questionada. Da mesma forma, as lembranças da chef Monica (Courteney Cox) sobre a sua infância e adolescência como uma menina gorda também eram usadas como alívio cômico. Outros tempos. Friends é apenas um exemplo entre tantos outros nesses mesmos moldes. E o que isso tem a ver com a conversa? Muito. Quando mais novos, não temos a maturidade para entender que isso é falta de representação, e acabamos levados a pensar que não somos bons o sufi ciente para aparecer na televisão.
“A cultura e a arte são ferramentas que temos para quebrar esses processos, mas penso de quais formas poderíamos atingir outras ‘bolhas’ e fazer esse conteúdo chegar a mais indivíduos que não têm o mesmo acesso que nós. Como isso vai evoluir se estamos sempre falando com as mesmas pessoas? Talvez esse seja o motivo da lentidão desse processo”, indaga o publicitário Cássio Reis da Silva.
Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, ele analisou a recepção sociodiscursiva de culturas negras através do programa Saia Justa, da GNT, nas temporadas 2017 e 2018, quando a atriz Taís Araújo se tornou a primeira negra a ocupar uma das cadeiras de apresentadora. “Quando pensamos em grupos hegemônicos, ninguém quer perder privilégios. Se veem um corpo diferente ocupando um espaço novo, num produto fictício ou real, se sentem ameaçados. E no momento que se sentem ameaçados, a defesa se torna o ataque. Uma lógica completamente errada, mas enquanto não nos prepararmos para essa discussão, continuará o mesmo grupo hegemônico evoluindo, enquanto os outros permanecem abaixo. O quão disponível estou em perder privilégio para que as pessoas às margens se insiram e, assim, chegarmos a essa mudança pela qual tanto lutamos?”, questiona Cássio, sobre a série de comentários negativos que serviram de objeto da sua pesquisa.
O estudante de Publicidade e Propaganda Diogo Darlan Freitag, também compartilha desse pensamento, tanto que sua escolha de TCC foi um estudo sobre a percepção de homens não heterossexuais da representação de personagens homens não heterossexuais no audiovisual contemporâneo. “Durante a pesquisa, nos questionários as pessoas traziam muitos relatos da própria vida, e sobre os filmes. Como elas ficavam felizes em ver personagens LGBTs com os quais conseguiam sentir identificação. E isso vai além de apenas ver um personagem gay ou bissexual, mas que mostre diferentes tipos de corpos e do padrão de ser branco. São passos lentos, porque quando os personagens LGBT+ são retratados, ainda estão dentro de padrões de corpos e belezas”, afirma.
Os dois trabalhos foram orientados pela professora Dafne Reis Pedroso da Silva, doutora em Comunicação Social, com pesquisas sobre produção e recepção audiovisual. Para ela, a cultura pop tem uma audiência massiva e um papel pedagógico fundamental.
“Em uma sociedade que você precisa ser visto para existir, não mostrar esses sujeitos nos filmes, novelas e programas é uma forma de dizer que eles não são aceitos, que você precisa, então, se transformar neste outro sujeito que está ali, seja o herói do filme ou a apresentadora de TV”, pondera.
O fenômeno de audiência Big Brother Brasil é um exemplo disso, que em 2021 teve quase metade do seu elenco composto por pessoas negras e LGBT+. Questões como homofobia, machismo, militância, racismo e xenofobia foram levantadas dentro e fora da casa, durante os três meses de exibição, fazendo com que marcas patrocinadoras aproveitassem as pautas para também levantarem bandeiras em suas campanhas publicitárias. “Ter um elenco diversificado e uma marca tão importante, como a Avon, mostrando com ênfase como seus produtos são acessíveis para todos, é muito significativo. Acho que a publicidade tem uma função importantíssima na sociedade para propagar isso, mas, por um lado, há uma coaptação das pautas pelas marcas. A publicidade, na maioria das vezes, é responsiva, ou seja, ela responde o que está acontecendo na sociedade, não necessariamente propõe a mudança”, afirma Dafne.
Colorblind casting como o nome diz, é a escalação cega de cor. desta forma, atores e atrizes das mais diversas etnias podem ser escalados em qualquer papel, sendo ele “historicamente correto” ou não. foi o que fez metade dos personagens nobres da série de época Bridgerton, da Netflix, ser negro, e não reservar seus papéis apenas aos criados e escravos.
Um levantamento produzido pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou 162 telenovelas exibidas pela TV Globo entre os anos de 1984 e 2014 e identificou apenas 10 com mais de 20% de seu elenco principal composto por atores e atrizes pretos ou pardos. Já do total de protagonistas assim classificados, a porcentagem era ainda menor, de apenas 8%. Além disso, ao relembrar as tramas protagonizadas por atrizes negras, todas as novelas citadas foram escritas por autores brancos. Tão importante quanto termos atrizes e atores negros na linha de frente da televisão, é termos autores negros contando as suas histórias.
“Acho de suma importância ter sujeitos diversos ocupando esses espaços, principalmente para incentivar as pessoas a serem protagonistas das suas próprias vidas. Isso serve de esperança e alento para outros”, afirma o jornalista Thiago Freitas.
O comunicador trabalhou por anos com televisão e, dentro da emissora que atuou, foi o primeiro e único homem, negro e homossexual a apresentar um programa de entretenimento em Santa Catarina. “Sempre quis que as pessoas me reconhecessem como jornalista, não apenas como negro ou gay. Em 2016, chegamos a ser líderes de audiência e o programa que mais faturou na rede inteira. Penso que a nossa cor e sexualidade não podem vir antes de tudo, nunca foi como quis que me enxergassem. Faz parte de quem eu sou, mas não me define como pessoa. Mas sei que não fui ainda mais longe dentro da emissora justamente por esses dois fatores (cor e orientação sexual)”, desabafa.
Segundo dados da Ancine de 2016, apenas 20% dos filmes nacionais lançados comercialmente no Brasil foram dirigidos por mulheres. A pesquisa apresenta um panorama sobre as produções brasileiras lançadas entre 2009 e 2016 e somente no ano de 2012 (24%) a participação feminina na direção ultrapassou a casa dos 20%. Quando falamos de roteiro, elas também são minoria: apenas 19% dos títulos foram escritos por mulheres.
O comunicador trabalhou por anos com televisão e, dentro da emissora que atuou, foi o primeiro e único homem, negro e homossexual a apresentar um programa de entretenimento em Santa Catarina. “Sempre quis que as pessoas me reconhecessem como jornalista, não apenas como negro ou gay. Em 2016, chegamos a ser líderes de audiência e o programa que mais faturou na rede inteira. Penso que a nossa cor e sexualidade não podem vir antes de tudo, nunca foi como quis que me enxergassem. Faz parte de quem eu sou, mas não me define como pessoa. Mas sei que não fui ainda mais longe dentro da emissora justamente por esses dois fatores (cor e orientação sexual)”, desabafa.
Ao relembrar os programas da sua infância, Thiago conta que nunca se viu representado na TV. “Há 20 anos, as Paquitas da Xuxa precisavam ser loiras. Eu, como fã da Xuxa, pensava isso, quando mais novo, que só servia para ser assistente de palco e estar na TV quem era loira. Hoje, isso mudou porque as pessoas começaram a impor e exigir diversidade. O próprio papel dos gays na novela mudou nas últimas décadas, mas ainda falta representatividade na cultura pop, do negro, do gay e formas diferentes da mulher também, e não apenas na TV”, aponta e completa: “Não podemos nos vitimizar e não fazer nada para mudar isso, precisamos reconhecer que o preconceito existe sim, e exigir o nosso espaço. Ainda não temos uma representatividade significativa como deveríamos ter, perante as nossas diferenças. O Brasil e o mundo são muito mais diversos do que se pensa”.
O estudo anual conduzido pelo Grupo Glaad, que analisa representatividade no cinema e na tv nos EUA, concluiu que a presença lgbtq+ em filmes do último ano bateu recorde pelo 8º ano seguido, com 18,6% das produções incluindo personagens lgbtq+. A pesquisa reuniu 118 obras lançadas pelos oito maiores estúdios, e encontrou 22 longas com representatividade da comunidade. A Glaad enfatiza também que a diversidade racial entre estes personagens caiu pelo 3º ano seguido. em 2019, 34% dos personagens lgbtq+ eram pessoas não[1]brancas, enquanto no ano anterior o total era de 42% e, em 2017, 57%.
Não se trata de mostrar as “minorias”, ainda mais quando consideramos que 51,8% da população do Brasil é formada por mulheres e 56,1% se declara preta ou parda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. E essa metade da população também quer se ver nas telas, nos livros, nos games, nas histórias em quadrinhos, nas capas de revistas, nos comerciais e campanhas publicitárias. Não identificar isso como necessário é preocupante, para dizer o mínimo. Sim, a cultura pop é muito importante para ampliar discussões, normalizar comportamentos, naturalizar representações e narrar experiências. Ver cabelos, corpos e identificações diferentes das nossas de forma recorrente e relevante contribui para que mais pessoas se sintam representadas e também aceitas.
Carol Bonamigo
Jornalista, especialista em Cinema e Realização Audiovisual, Diretora de Jornalismo e sócia da revista Flash Vip