O Poder da Representatividade.
Quem imaginaria que iria chegar o momento em que corpos volumosos, cheios de curvas, rostos maduros, tons de pele variados e pessoas com deficiências iriam estampar capas de revistas, estrelar campanhas ou até mesmo desfilar para grandes maisons. Modelos plus size na passarela da temporada de verão 2021 da Versace, a capa da revista Quem com a @_pequenalo (uma influenciadora diagnosticada com displasia óssea) e a capa da Vogue Brasil com Ingrid Silva (1ª bailarina negra brasileira no Dance Theatre of Harlem) grávida.
A partir do momento que entendemos que nós somos diferentes uns dos outros, mesmo com nossas semelhanças e que a “Moda é a transmissão da civilização”, conseguimos ver o papel da moda na sociedade.
Mas, apesar de estarmos vivendo essa revolução na moda, quando vamos para as estatísticas, vemos que há muito o que se fazer. O site The Fashion Spot faz o balanço da diversidade de modelos nas semanas de moda internacionais, o que eles intitulam de Diversity Report.
No relatório da The Fashion Spot referente a Semana de Moda de Nova York de Outono de 2021, em comparação com a temporada de primavera 2021, houve uma queda. O que é estranho, já que a pandemia apresentava-se mais forte antes do que agora. Quando analisamos a representatividade das modelos de cor nas passarelas da temporada de outono em relação a primavera, vemos os números caírem de 57,1% para 50,7%. Ainda assim, como o relatório aponta, esta é a segunda temporada mais diversa da New York Fashion Week desde 2015.
Ainda no estudo temos outras quedas, como a representatividade de modelos plus size de 68 para seis, sem gênero de 15 para três e transgeneros de 36 para seis. Ambos os dados foram comparados às temporadas de primavera e outono 2021. A cota de pessoas com deficiência ficou toda para Aaron Philip, modelo transgênero, negra e cadeirante que representou Collina Strada na NYFW.
#InYourOnSkin (na sua própria pele) é uma campanha de moda criada pela marca inglesa de roupas Missguided, com objetivo de mostrar que podemos ser como realmente somos. Para a campanha, a marca apresenta seis mulheres com diferentes características na pele, como marcas de nascença, sardas, cicatrizes e albinismo, mostrando que beleza não tem padrão. Além disso, em 2017 a Missguided parou de usar Photoshop nas estrias das modelos e, no começo de 2018, criou manequins com estrias, sardas e vitiligo para suas lojas físicas.

Quando falamos em representatividade na moda brasileira, não podemos esquecer do estilista que sempre trouxe isso como pauta a cada edição em que participava do São Paulo Fashion Week, Ronaldo Fraga. Entre os seus desfiles com maior número de diversidade de modelos está a edição N44 do SPFW, realizada em 2017. No casting estavam gordos, magros, velhos, novos, tatuados, com deficiência, negros e brancos.
Apesar dessas marcas serem uma exceção e em porcentagem reduzida, a representatividade delas muda a vida de muitas pessoas, de muitas famílias, que sempre se sentiram culpadas e diversas vezes excluídas ou marginalizadas por não se encaixarem dentro dos padrões exigidos pela indústria da moda. E esse é o grande poder da representatividade.
A partir do momento que entendemos que nós somos diferentes uns dos outros, mesmo com nossas semelhanças e que a “Moda é a transmissão da civilização”, como já disse Pierre Cardin – conseguimos ver o papel da moda na sociedade. A moda opressora, capitalista, majoritariamente magra e branca já não tem mais espaço, ou pelo menos não deveria ter. Reverter esse cenário não será nada fácil, mas isso não significa que não seja necessário.
Bruno Gerhardt
Colunista convidado da FV, é Designer, Criador de Conteúdo e Especialista em Moda.