Um pouco da experiência de participar do TIFF (Festival Internacional de Cinema de Toronto).
Desde o início do ano, eu estava ansioso para escrever a coluna deste mês, já que iria contar um pouco da experiência de participar do TIFF (Festival Internacional de Cinema de Toronto). O TIFF é um festival aberto ao público, que acontece anualmente em setembro, e um de seus grandes diferenciais é oferecer um mix de filmes incomum a outros grandes festivais (como Cannes ou Sundance). De filmes mais conceituais e independentes a outros que serão sucesso nas bilheterias, são mais de 200 mil ingressos vendidos para os 10 dias de festival (pelo menos nos quatro anos anteriores).
Em 2019 tive a chance de assistir filmes ótimos, que foram premiados mais tarde, e no TIFF sempre tem a surpresa de que alguém do elenco pode aparecer para introduzir o filme ou caminhando pelas ruas de Toronto, você vê um tapete vermelho e grandes estrelas de Hollywood passando por lá. Este ano, porém, as coisas foram diferentes. Ao contrário de alguns festivais que continuaram, mas com algumas restrições, o TIFF cancelou a maioria de seus grandes eventos presenciais e se tornou um festival 80% digital. Com apenas quatro salas de cinema funcionando (a 40% de capacidade), um cinema ao ar livre e três cinemas drive-in, a solução foi permitir o streaming dos filmes também.
A experiência mudou, mas os fãs de cinema continuaram fiéis ao festival, esgotando ingressos e até fazendo com que sessões extras dos filmes mais buscados fossem necessárias. Chegando ao fim, alguns filmes como Nomadland, One Night in Miami, Pieces of a Woman, The Father, são grandes apostas para as premiações que logo começarão. Os ingressos, mesmo digitais, dão acesso ao filme, um pequeno vídeo de introdução com o diretor, e sessão de perguntas e respostas com diretor e/ou elenco.
Dos filmes que assisti, esse vale um comentário exclusivo. The Father é dirigido por Florian Zeller e estrelado por Anthony Hopkins e Olivia Colman. Baseado em uma peça de teatro criada há anos pelo diretor, conta a história de Anthony, um homem com sinais de demência e que precisa da ajuda de sua filha. O filme nos coloca na mente de Anthony, e um dos grandes triunfos é fazer você sentir o que provavelmente ele está sentindo, causando confusão e, em vários momentos, tristeza. Anthony Hopkins está sensacional (e uma curiosidade é que o diretor escreveu o filme com ele em mente, tanto que o nome e a data de nascimento do personagem são os mesmos do ator), assim como Olivia. Um filme forte, que faz você sentir os efeitos dele por um bom tempo após assisti-lo.
Guilherme Bonamigo
Colunista convidado da FV, é gestor de projetos e mora em Toronto, Canadá. É provavelmente tarde demais para perceber que assiste filmes e séries mais do que deveria.