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28/08/2024 saúde

Dia Nacional de Combate ao Fumo

Especialistas alertam para os malefícios do tabagismo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é a primeira causa de morte evitável do planeta. Além do óbito prematuro, várias doenças poderiam ser contornadas ao parar o hábito de fumar. A médica otorrinolaringologista, Dra. Lina Ana Hirsch Kohler, alerta que o tabagismo pode causar sérios danos ao nariz, ouvidos e garganta, além de afetar gravemente a saúde geral. “A fumaça do cigarro contém substâncias tóxicas que irritam e inflamam as vias respiratórias, resultando em uma série de problemas. Depois de passar pela boca, a fumaça atinge outros órgãos, como a faringe e a laringe, onde pode causar transtornos como faringite, laringite e câncer da laringe. Ao ser transportada através da traqueia e dos brônquios, a fumaça chega ao seu destino final, o pulmão”, explana Dra. Lina Ana.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabagismo é responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de faringe no Brasil. Essa estatística alarmante demonstra a relação direta entre o uso do cigarro e o desenvolvimento de tumores malignos na faringe, área que inclui a parte posterior da boca e o início da garganta. “O cigarro contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, muitas delas cancerígenas, que, ao serem inaladas, entram em contato direto com as mucosas do trato respiratório superior, promovendo mutações celulares que podem levar ao câncer”, afirma a médica.

Os alertas são constantes sobre os malefícios do cigarro na saúde das pessoas. Um estudo feito pela Fundação do Câncer, apresentado em maio deste ano no 48º encontro do Group for Cancer Epidemiology and Registration in Latin Language Countries Annual Meeting, na Suíça, apontou que o tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. Mas não é apenas com o câncer que os fumantes devem se preocupar. Conforme o médico pneumologista Dr. Aland Waldow, responsável técnico do Pulmolab – Centro de Exames Pulmonares, mais de 50 doenças estão relacionadas ao consumo de cigarro. “Os fumantes, comparados aos não fumantes, apresentam um risco 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão, cinco vezes mais de sofrer infarto, cinco vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar e duas vezes mais de sofrer um derrame cerebral”, explica o médico.

Os principais causadores de doenças e transplantes pulmonares no Brasil são o tabaco e seus derivados. As doenças pulmonares são aquelas que prejudicam o pleno funcionamento dos pulmões, como câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), enfisema pulmonar, tuberculose e bronquite crônica. Dr. Aland lembra ainda que não são apenas os fumantes ativos, mas também os passivos que estão suscetíveis ao desenvolvimento das patologias respiratórias. “Ao respirar a fumaça do tabaco, os não fumantes correm o risco de ter as mesmas doenças que o fumante. Em crianças que vivem com fumantes em casa, há um aumento de incidência de pneumonia, bronquite, agravamento de asma, além de uma maior probabilidade de desenvolvimento de doença cardiovascular na idade adulta”, exemplifica.


Problemas que o cigarro traz para a saúde bucal

O tabagismo é um dos principais fatores de risco para uma série de doenças graves, e sua influência negativa na saúde bucal não pode ser subestimada. Segundo a cirurgiã-dentista da clínica Arte e Face, Dra. Iara Gallon, especialista em Prótese e Implantes Dentários, os efeitos do cigarro na cavidade oral são devastadores e vão além do mau hálito e da coloração amarelada dos dentes. "O cigarro não afeta apenas a estética, mas compromete seriamente a saúde da boca. As substâncias presentes nele diminuem a produção de saliva, causando secura bucal e aumentando o risco de cáries e infecções. Além disso, pode levar a complicações mais agravantes, como doenças gengivais severas que podem resultar na perda de dentes e até o câncer bucal", alerta.

O câncer bucal é um tumor maligno que afeta várias regiões da boca, incluindo lábios, língua, bochechas, gengiva e palato (céu da boca). No Brasil, ele é o quinto tipo de câncer mais frequente entre os homens e a 13ª posição entre as mulheres. Para o triênio de 2023 a 2025, o INCA estima que sejam diagnosticados no Brasil 15.190 novos casos de câncer de boca e orofaringe a cada ano. Desses casos, 11.180 afetam homens e 4.010 afetam mulheres. E o tabagismo é a principal causa, juntamente com o consumo excessivo de álcool.

“O tabagismo é responsável por 90% dos casos de câncer oral. Os sintomas iniciais, como feridas que não cicatrizam, manchas brancas ou vermelhas na boca e dificuldade para mastigar, muitas vezes são ignorados pelos pacientes. A falta de conscientização sobre os sinais precoces do câncer bucal leva a diagnósticos tardios, reduzindo significativamente as chances de cura. É por isso que bons hábitos, prevenção e visitas regulares ao dentista, é crucial para reduzir o risco dessa doença”, orienta o cirurgião-dentista da Arte e Face, Dr. Silvio Gallon, especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial.


O perigo dos cigarros eletrônicos

De acordo com o Ministério da Saúde, o hábito de fumar cigarro ou derivados, como narguilé e cigarro eletrônico, é reconhecido como uma doença que causa dependência física, psicológica e comportamental. Mesmo com dados e estudos constantemente divulgados sobre o aumento da incidência de doenças como o câncer de pulmão, o número de pessoas que consomem vape continua a crescer, principalmente por seus usuários acreditarem que ele seja menos nocivo que o cigarro comum. Segundo a médica pneumologista do Pulmolab, Dra. Gabriela Marcolin, o cigarro eletrônico contém diversos componentes potencialmente tóxicos para o sistema respiratório, além de doses incertas de nicotina, pois o conteúdo em geral não é divulgado no dispositivo. “O uso de cigarro eletrônico pode causar uma doença pulmonar grave e aguda, denominada Evali, que pode levar a óbito. É uma lesão pulmonar associada ao uso desses produtos, e os principais sintomas são tosse, dor torácica e dispneia, além de dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, febre, calafrios e perda de peso”, afirma.

A popularização dos vapes, especialmente entre os jovens, tem gerado um grande alerta para a saúde. Conforme dados do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC),  o número de fumantes de cigarros eletrônicos cresceu 600% de 2018 a 2023, passando de 500 mil para 2,9 milhões de usuários. “O uso de cigarros eletrônicos altera as condições naturais da boca, facilitando o acúmulo de placa bacteriana, principal causa das doenças periodontais. Ele também aumenta o risco de gengivite e periodontite, devido à redução do fluxo sanguíneo na gengiva, sem contar  que os ácidos e substâncias presentes nos líquidos dos vapes contribuem para a erosão do esmalte dentário”, sinaliza Dr. Silvio Gallon.


Relação entre tabagismo e distúrbios do sono

Muitos dos malefícios do tabagismo são mais subjetivos e silenciosos, envolvendo doenças que podem passar despercebidas, como os distúrbios do sono. Conforme o otorrinolaringologista e médico do sono, Dr. Rodrigo Kohler, a nicotina é um estimulante que pode interferir diretamente nos padrões de sono. “A nicotina aumenta a liberação de neurotransmissores que mantêm o cérebro em alerta, dificultando a capacidade de relaxar e adormecer. Isso leva a uma redução na qualidade do sono e a um aumento nos despertares noturnos”, explica o médico.

Por este motivo, o tabagismo também está relacionado a uma série de distúrbios do sono, como a insônia e a apneia obstrutiva do sono. “A apneia do sono, por exemplo, é uma condição em que a pessoa para de respirar temporariamente durante o sono, o que pode ser exacerbado pelo tabagismo. Fumantes têm um risco significativamente maior de desenvolver essa condição devido ao efeito inflamatório do cigarro nas vias respiratórias. É importante salientar que a falta de sono reparador está associada a um aumento no risco de doenças como hipertensão, diabetes, obesidade e depressão. Quando combinamos esses fatores com os malefícios já conhecidos do tabagismo, temos um quadro extremamente preocupante”, atenta Dr. Rodrigo.


Pare enquanto há tempo

A fisioterapeuta cardiorrespiratória, Vanessa Girard Severo, coordenadora do Pulmolab, faz um alerta: parar de fumar pode reverter o dano causado aos pulmões, mas não totalmente. “Quanto mais cedo a pessoa parar de fumar, maiores são as chances de prevenir doenças pulmonares crônicas, que são irreversíveis. Já nas primeiras 24 horas sem o cigarro é possível perceber as mudanças. Seu corpo começa a eliminar o monóxido de carbono e as funções respiratórias começam a melhorar a nível celular. Em nove meses, a capacidade dos pulmões de absorver oxigênio melhora e a tosse crônica diminui, tornando a respiração mais fácil. E a partir de cinco anos sem o tabagismo, o risco de sofrer infarto será igual ao de pessoas que nunca fumaram. Todas essas alterações causadas pelo cigarro e pela cessação do habito tabágico podem ser observados em exames de função pulmonar, os quais dispomos no Pulmolab”, explana Vanessa.


AUTORA

Carol Bonamigo

Jornalista, especialista em Cinema e Realização Audiovisual, Diretora de Jornalismo e sócia da revista Flash Vip
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