Maternidade desacelerada

Ao iniciar a conversa com Fabiana Mascarello Peruzzolo, senti que dialogava com uma velha amiga, embora tínhamos acabado de nos conhecer. Talvez seja por essa facilidade em criar vínculos que a advogada, mãe e autora tenha conseguido atingir o coração de tantas leitoras com o seu livro Slow Maternity, que após um ano de seu lançamento, alcança livrarias do país inteiro. 

Como o nome sugere, (Maternidade Desacelerada, em tradução livre), vem em contrapartida da nossa sociedade atual movida pelo rápido. Fast food, fast fashion, notícias resumidas para caber em poucos caracteres, informações reeditadas para encaixar em vídeos de menos de um minuto, conteúdos tentando se tornar atrativos nos primeiros três segundos para evitar o temido passar de um dedo. Basicamente, nossa vida é movida em um ritmo tão acelerado, que não sabemos mais dizer se o que aconteceu ontem, foi de fato há 24 horas ou há uma semana. E se tem algo que não podemos viver de forma frenética, é o desenvolvimento dos nossos filhos. 

Mas vamos partir do início. Tudo começou, como Fabiana conta, quando conheceu seu marido, Luiz, que já no primeiro encontro falava sobre o desejo de constituir uma família. No primeiro ano de casados, chegou a Luiza. Dois anos e meio se passaram e deram as boas-vindas a Francisco. E sete anos depois, Bento veio para completar a família. 

Nos primeiros dois filhos, não teve dúvidas. Entre priorizar a carreira ou a família, Fabiana nunca viu uma opção em detrimento da outra. Simplesmente como momentos a serem vividos plenamente. Com o apoio e aporte do marido, pausou a carreira de advogada para se dedicar 100% à criação dos filhos. “No escritório, meu marido contratou outra pessoa, mas dentro da minha casa, eu fui insubstituível”, conta Fabiana. Foram seis anos de devoção aos dois primeiros filhos. 

“A MATERNIDADE VAI EXTIRPAR DO SEU CORAÇÃO BOA PARTE DO EGOÍSMO, ELA VAI TE TRANSFORMAR EM ALGUÉM MELHOR, UM MELHOR QUE PROVAVELMENTE NÃO CONSEGUIRIA SE FOSSE SOMENTE POR VOCÊ MESMA. QUE PRECISA SUPERAR SUAS MISÉRIAS MUITO COMPROMETIDAMENTE POR UM AMOR MAIOR QUE VOCÊ MESMA”

Bento já veio em uma fase diferente. Uma fase que exigiu adaptação de toda a família. Os primeiros seis meses foram frequentando o escritório, com o ‘chiqueirinho’ ao lado da mesa de trabalho. “E claro que tive inseguranças. Sobre o meu trabalho e sobre meus próprios filhos. Eu sei que pude escolher isso, mas foi uma escolha de alma. Não é só uma questão financeira, é vocação. E, honestamente, passou muito rápido”, recorda. 

Sempre apaixonada por literatura, Fabiana escrevia diários e textos desde a infância, mas nunca imaginou que isso se tornaria um livro. No final de 2023, ao ganhar de presente Caixa de Saída, um livro que traz reflexões através de frases, teve o estalo: poderia fazer algo semelhante sobre maternidade. Uma amiga a incentivou e, ao apresentar a ideia para a editora Crivo, viu o projeto ganhar vida. “Jamais imaginei essa proporção. Achei que o livro ficaria entre meus amigos e familiares. Até saber do interesse das Livrarias Cultura e Curitiba e da Distribuidora Catavento, que pediram algumas cópias em consignado. De repente, mães do Recife, Rio Grande do Sul e São Paulo estavam postando frases do livro, me marcando no Instagram e enviando mensagens de agradecimento”, conta Fabiana. 

Mas não é uma maternidade glamurosa que Fabiana prega, como se fosse algo fácil. Tampouco é a martirização do ato, como se fosse um sacrifício. É basicamente a arte de viver o agora, conhecer profundamente a sua prole e confiar na sua intuição. Histórias permeadas de percalços, intempéries, risos, choros, soluços, inseguranças e felicidade plena foram inspiração para as frases que preenchem as páginas do livro.

“A felicidade, para mim, está no ordinário”, diz. Com as redes sociais e a constante comparação que fazemos com a vida alheia, Fabiana reforça: “a casa bagunçada, o jantar deixado para depois, o momento de sentar e conversar com o filho — ali está a verdadeira felicidade. A maternidade nos permite acessar o sagrado que existe em nós”. 

Slow Maternity é repleto de pensamentos, que a cada página trazem consigo um relato ora gentil, ora poético, ora duro, mas sempre sincero, tal qual uma mãe tem que ser. Provavelmente por isso tenha causado tanta identificação entre as leitoras, que consideraram seus sentimentos – muitas vezes escondidos, inclusive de si mesmas – vistos e validados. 

Mas lembre-se: este livro não é um manual de regras e conselhos. É um desabafo de uma mãe que fez uma escolha, é um abraço para uma mãe que precisa ser compreendida, são sentimentos que trazem conforto, e é um relato de uma maternidade realmente vivida. “Nada te prepara para a maternidade. Mas a maternidade te prepara para tudo”. 

“PERMITA-SE CONHECER O SEU FILHO PELO VIÉS DELE PRÓPRIO”