Dia da Voz é comemorado em 16 de abril e conscientiza a população sobre sua importância e os cuidados necessários para preservá-la
O ser humano nasce e seu primeiro mecanismo de voz se dá através do choro. Ao expirar, o ar passa pela laringe, que aproxima e faz as pregas vocais vibrarem. O som é transformado e amplificado pelas cavidades de ressonâncias, como a boca e faringe, filtrando e qualificando a voz. Ela faz parte de nossa personalidade e através dela, reconhecemos alguém, mas também identificamos emoções e intenções. É como se pudéssemos tocar o outro à distância, sem mesmo encostá-lo fisicamente. Das agudas, metálicas e aveludadas, às graves e ásperas, cada uma é única e tem seu valor. Aliás, quão significativa é sua voz para você? Gostar dela é muito importante e faz toda a diferença na autoestima.
Algumas pessoas transexuais – que não se identificam com o gênero que lhes foi designado no nascimento – ao fazer a transição, podem sentir a necessidade de feminilizar ou masculinizar a voz. Mas quem se identifica com o gênero que lhe foi designado no nascimento – os cisgêneros – também podem sentir desconforto. Isso acontece geralmente com mulheres que têm a voz muito aguda e “infantilizada”, e com homens que não têm a voz tão grossa quanto gostariam.
O cirurgião oncológico de cabeça e pescoço, Dr. Marco Tesseroli, cita o exemplo de um famoso que chama a atenção por ter uma disparidade entre a voz e o porte físico, o atleta brasileiro de MMA e ex-campeão Peso Médio do UFC, Anderson Silva. “A escala de voz de Anderson é 188 hertz e o som está na escala feminina (150 a 250 hertz). O lutador, porém, diz que gosta de sua voz e que faz parte de sua personalidade. E é isso que importa. Entretanto, caso a pessoa não se sinta feliz com a voz que tem e deseja transformar o timbre, podem fazê-lo através de procedimentos cirúrgicos específicos. Para isso, é importante consultar um cirurgião de cabeça e pescoço, que trata, além de outras partes da área, problemas nas cordas vocais”, explica.
É comum artistas – cantores, atores e outros profissionais que trabalham com a voz, como comunicadores, radialistas, operadores de telemarketing e professores – apresentarem problemas nas cordas vocais. Em determinados casos que acometem a laringe (órgão que abriga as cordas vocais), o problema pode ser tratado com o laser. A cantora e compositora britânica Adele, por exemplo, sofreu de uma hemorragia nas cordas vocais em 2011 e passou por uma microcirurgia. “A cirurgia foi feita com o uso do laser, terapia que tem diversas vantagens: a área do corte é precisa, removendo a porção doente do órgão, preservando ao máximo as áreas sadias ao entorno; dispensa cortes no pescoço; possibilita curto período de internação hospitalar, até com alta no mesmo dia; pode preservar a voz; e evita o tratamento de radioterapia”, expõe Tesseroli. O profissional afirma que até há poucos anos esse tratamento só era realizado em grandes cidades brasileiras, mas que atualmente está disponível em Chapecó.
Rouquidão persistente, caroço no pescoço, dor para engolir e dificuldade para respirar podem ser sinais de tumor na laringe. Mas o especialista tranquiliza quem apresenta os sintomas, pois pode ser uma infecção. “Se persistirem por mais de duas semanas, precisa ser investigado por um cirurgião oncológico de cabeça e pescoço para tirar a dúvida. A principal estratégia de prevenção é a cessação do tabagismo, aliada a hábitos saudáveis: exercícios, dieta rica em frutas e verduras e manter o peso adequado”, salienta.
O câncer de laringe ocorre predominantemente em homens acima de 40 anos e é um dos mais comuns entre os que atingem a região da cabeça e pescoço. Representa cerca de 25% dos tumores malignos que acometem essa área e 1,2% de todas as doenças malignas.
Instituto Nacional de Câncer, 2022.
Quando tocamos no assunto câncer nas cordas vocais, um caso que sempre vem à tona é o do atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2011, Lula foi diagnosticado com câncer de laringe e precisou passar por radio e quimioterapia. Ele apresentava rouquidão e dores na garganta – sinais que geralmente servem como alerta para este tipo de tumor. Depois do diagnóstico, iniciou uma rotina regular de exercícios físicos e cessou o tabagismo, hábito que teve por 50 anos.
Em novembro do ano passado, ele apresentou um novo problema na região, dessa vez uma leucoplasia da prega vocal esquerda (caracterizada por placas brancas que podem aparecer em regiões mucosas da boca, laringe, faringe ou nariz). O problema, no entanto, não evoluiu para um câncer e o presidente passou por uma cirurgia de retirada da lesão.
Nos casos radicais de câncer de laringe, pode haver a necessidade de retirar as cordas vocais e isso acaba comprometendo a voz do paciente. Mas você sabia que após a cicatrização da cirurgia, é possível voltar a falar? Dr. Marco explica que isso é possível porque não precisamos de cordas vocais para falar, mas de vibração. Ele cita, ainda, três métodos que podem ser utilizados neste caso:
Cuidar da voz é fundamental e o profissional finaliza com algumas dicas para proteger a sua: “Se a pessoa usa a voz com muita frequência, a consulta a um profissional da fonoaudiologia pode ajudar a falar de modo adequado sem sobrecarregar as cordas vocais. Evite pigarrear em excesso, para não ocorrer atrito entre as pregas vocais; caso precise falar por tempo prolongado, beba água em temperatura ambiente com frequência, principalmente ao permanecer por muito tempo em ambientes com ar condicionado; se você tem o hábito de beber e fumar, consulte um cirurgião de cabeça e pescoço de forma periódica para manter a saúde em dia”.
Mirella Schuch
Futura jornalista. Curiosa e amante da escrita.