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31/05/2023 saúde

Tabagismo: curiosidade, prazer, dependência

Criado em 1987 pela OMS, Dia Mundial Sem Tabaco alerta sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo

Cigarro aceso. Uma tragada. Dez segundinhos e os receptores das células cerebrais já reconhecem a nicotina inalada. Logo, é estimulada a produção de dopamina, gerando uma sensação de relaxamento e prazer.

Por mais que as sensações sejam gostosas, por trás da falsa sensação de bem-estar, o hábito de fumar, a longo prazo, pode causar inúmeras doenças - e mortes: o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, aponta a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por conta do tabagismo.

O que mais ouvimos falar é que o tabaco pode causar câncer de pulmão, mas ao fazer uma pesquisa aprofundada, sabemos que a doença contribui para o desenvolvimento de leucemia mielóide aguda, câncer de bexiga, de pâncreas, de fígado, do colo do útero, câncer de esôfago, de rim e ureter, câncer de laringe, de boca, faringe, de estômago, cólon e reto, e de traqueia e brônquios. 

Para além do câncer, o tabaco também está associado ao desenvolvimento de tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade e osteoporose, dentre tantas outras enfermidades. Não é pouca coisa. 

Embora seja um hábito comum, o tabagismo é reconhecido como uma doença crônica e, de acordo com a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde [CID-11], ele integra o grupo de "transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento" em razão do uso da  substância psicoativa. E para conscientizar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo, a OMS criou em 1987 o Dia Mundial Sem Tabaco, lembrado em 31 de maio. 


Sinais para acender o alerta

O médico oncologista clínico André Moreno alerta sobre os principais sintomas de câncer de boca, garganta e pulmão decorrentes do consumo do tabaco. “Pacientes com histórico de tabagismo devem ficar atentos a dores com caráter progressivo e feridas na boca e garganta. No caso de qualquer alteração diferente do normal, é recomendável consultar um médico ou dentista. Em relação ao pulmão, se a pessoa sentir falta de ar, mudança no padrão da tosse e perda de peso, também é preciso buscar um acompanhamento com profissional”, reforça o oncologista.   

Das 8 milhões de mortes por ano causadas pelo tabagismo, cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo. André Moreno explica que os riscos do uso do tabaco para os fumantes passivos são os mesmos dos fumantes ativos. Para quem tem maior probabilidade de desenvolver doenças pulmonares, por exemplo, é importante cuidar para não expor-se a ambientes fechados nos quais pessoas estão fumando. 


Qualidade de vida

Largar o hábito de fumar não é nada fácil, e nem sempre de uma hora para a outra. Isso porque o tabagismo mexe com questões emocionais, afetivas e sociais. Entretanto, os benefícios de deixar o consumo de lado são inúmeros e contribuem para uma melhor qualidade de vida. Para você ter uma ideia, 20 minutos após parar de fumar, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal. Após duas horas, não há mais nicotina circulando no sangue. Depois de oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza. De 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor. Dois dias depois, o olfato já percebe os cheiros mais aguçados e o paladar já degusta a comida com maior prazer. Após três semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora. Um ano após largar o hábito, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido pela metade. E ao cessar por 10 anos o tabagismo, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.

“O desafio de cessar o tabagismo é muito grande, pode gerar ansiedade, ganho de peso e é necessário uma equipe multidisciplinar para largar o hábito. Felizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza em algumas unidades básicas uma equipe para auxiliar o paciente tabagista que tiver o interesse de parar de fumar. É importante procurar a unidade mais próxima para verificar a disponibilidade do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Ele é interessante também porque oferece medicamentos para ajudar a largar o vício, de forma gratuita”, finaliza o médico.

AUTORA

Mirella Schuch

Futura jornalista. Curiosa e amante da escrita.
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