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13/08/2023 comportamento

Paternidade Ativa

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), afirma, pai ativo participa dos cuidados diários, criando e promovendo vínculos afetivos

Por Jaine Rodrigues


A presença paterna é diferente e complementar à materna, na qual os dois assumem o papel de responsabilidade e afeto, podendo contribuir para uma maior flexibilidade mental e adaptativa do ser. Mesmo que, por muito tempo, foi cultivada a ideia de que o pai é o responsável somente por prover a vida e o sustento, o envolvimento da figura paterna, a sua participação ativa na vida da criança e a proximidade emocional com ela, condicionam o seu desenvolvimento intelectual, emocional e social. Hoje, abordagens mais amplas assimilam o papel paterno assim como o da mãe, exercendo a atividade direcionada ao cuidado e desenvolvimento do ser humano, desde suas fases iniciais. Por isto, considerando a celebração do Dia dos Pais, neste domingo (13),  torna-se pertinente aprofundarmos algumas faces desta experiência.


Saúde mental e emocional na paternidade ativa

A capacidade de lidar com os desafios da paternidade é melhor desenvolvida com saúde mental e emocional em dia. Isto porque, como explica a psicóloga Suzane Busatta Ignachewski, através deste bem-estar é possível dar apoio emocional aos filhos, ter uma comunicação mais aberta, expressar o carinho através da escuta e cuidado, por exemplo. Mas, um pai que está lidando com problemas psicológicos não resolvidos, como ansiedade, depressão e traumas, pode enfrentar dificuldades de responder adequadamente às necessidades emocionais dos filhos. “Aí entra a importância dos pais cuidarem de si mesmos para contribuírem com a saúde emocional dos filhos também. Pois ele pode servir como modelo positivo ou negativo de comportamento, habilidades e valores”, explica.

Segundo a psicóloga, durante a infância se entende que a presença da figura paterna influencia no crescimento dessa criança e vai fornecer modelos de relacionamento saudável. Na adolescência, este apoio pode desempenhar o papel fundamental de orientação de escolhas, estabelecimento de limites saudáveis e seguros na construção da autoestima. Sendo que, na vida adulta, esta relação pode continuar se fortalecendo com apoio emocional, transmissão de conselhos e experiências. 

Na paternidade ativa, os pais mais acolhedores e abertos criam um ambiente familiar mais saudável e harmonioso. “É uma experiência paterna mais coerente, onde os pais podem ajudar os filhos,  através do comportamento positivo ao invés de uma prática mais autoritária. O pai que é compreensível, também vai ouvir melhor os seus filhos e aí os filhos também vão ter maior abertura para falar com eles. O filho vai se sentir mais à vontade para expressar seus pensamentos e sentimentos”, explica.

Todos estes aspectos e reflexões nos ensinam sobre sensibilidade e empatia ao olhar para a experiência paterna. Entre singularidades, acertos e dificuldades, todos podem desenvolver este papel de modo ativo e consciente. Desde a compreensão do amadurecimento, masculinidade e cuidado com a saúde emocional e mental.


O que ser um pai ativo ensina?

Na sua experiência, Cristian Alberto Breuer –  pai de um filho de 16 anos e uma filha que está a caminho – conta ter aprendido ter mais responsabilidade, coerência e discernimento. Também, a ter preparo para passar visões de mundo, tanto positivas ou negativas para o filho. “Porque o filho tem que estar preparado para tudo, né? Não adianta você querer passar para o teu filho tudo aquilo que te limita. Crenças, dogmas, questões políticas e sociais. Acho que a gente tem que passar uma visão neutra para ele procurar, escolher aquilo que ele quer buscar na sua essência. E, claro, a gente vai guiar o caminho, mas quem realmente escolhe é o filho”, pontua,

Quando foi pai pela primeira vez, Cristian, tinha 17 anos. “Era uma criança cuidando de outra criança”, afirma. Nesta fase, onde jovens estão buscando conhecer o mundo, ir à festas com amigos, ter liberdade, não pôde mais pensar somente nele. O filho passou a estar em primeiro lugar em sua vida. Entretanto, sua presença diária se estendeu até os 6 anos de idade do filho, quando o relacionamento com a mãe da criança terminou. Após este período, ele esteve presente a partir de visitas e contatos pelo telefone. Quando houve o afastamento parcial, “ele sentia muito a minha falta. Eu sentia a felicidade dele quando ligava, quando ia visitá-lo. Mas foi interessante, até para agora ter uma nova experiência, já tenho um certo preparo, com esses anos aí convivendo com ele”. Ou seja, hoje, com 35 anos de idade, o pai guarda o que aprendeu na primeira experiência para exercer a função com a bebê que em breve estará em seus braços.

Segundo Cristian, a busca por curar feridas internas através da espiritualidade também o auxiliou a ter mais clareza do que significa ser um pai ativo. “Esse pouco de discernimento que tenho agora, é alimentado para conseguir evoluir cada vez mais”, destaca.


Acolhimento e compreensão do ser masculino

Neste processo de entender os pais, o Professor Mestre em Psicologia e pai de três, Manolo Araújo Kottwitz, prefere não produzir diagnósticos que rotulem os homens que encontram dificuldades quando a vida solicita sua presença como pai, muito menos para culpabilizá-los ou vitimizá-los. Ao pensar nisso, questiona: “os homens estão ocupando e estão tendo espaços ou criando condições para habitar o tempo-espaço da paternidade? E como eles estão fazendo isso? Como estamos construindo as compreensões sobre a masculinidade? E como isso modifica a maneira como as subjetividades são produzidas, a fim de que tenhamos homens e mulheres mais saudáveis?”.

Para ele, “o problema é complexo e diz respeito às práticas sociais, aos costumes, à história. O que nós enfrentamos hoje são os sintomas de uma construção histórico-cultural que colapsou. Há os homens que querem mudar, mas como nós estamos conduzindo este processo?”.

No âmbito da saúde mental,  o conceito de paternidade ativa é caracterizado pelo  processo que decorre desse olhar crítico voltado à construção das masculinidades. “É quando compreendemos que o cuidado com a vida é uma tarefa coletiva, respeitando os limites e as capacidades de cada sujeito, mas orientados pelo desejo de uma saúde sistêmica, ecológica”, explica.

No entanto, nem todos os homens têm condições – física, econômica, social ou psicológica – de exercer uma paternidade ativa. Em sua experiência paterna, ao considerar habilidades e ferramentas necessárias para exercer este papel, Manolo conta que sua principal demanda é a disponibilidade. Mesmo que nem sempre seja possível estar disponível, ela é um exercício. “Essas habilidades e ferramentas não estão prontas, cada pai precisa fabricar as suas enquanto fabrica também a si próprio. Estar disponível nos diz sobre acolher a existência dos nossos filhos e compreender que nem sempre vai ser fácil e é durante esse processo de acolher a existência singular de nossos filhos e filhas que desenvolvemos as ferramentas e as habilidades: resiliência, amorosidade, paciência, compaixão e muitas outras, que permitem nos aliarmos às forças da vida e aos afetos festivos e celebrantes”, ressalta, ao considerar as conquistas desta relação familiar. 

Além disso, para Manolo: “o reconhecimento da paternidade pelo homem, tardia ou não, implica diretamente na maneira como ele assume as demandas da paternidade, sua sensação de pertencimento àquela condição de pai, seu desejo de habitar esse território e suas condições de perseverar neste processo. Estas relações variam e produzem processos radicalmente singulares”. O importante é que independente da situação familiar, se o pai está com a mãe ou não na mesma casa, isto não impede que o homem possa estar ativo na vida de seu filho, ele pode encontrar outras maneiras de estar presente. “Quem quer, busca e faz”, talvez esta frase exemplifique isto.

De acordo com o psicólogo, a paternidade é um conjunto de representações sociais pré-determinadas e nem sempre ela será um elemento característico na vida de uma família. “Basta verificar a existência das mais variadas formas de organização familiar, muitas das quais dispensam a figura paterna ou masculina, por livre escolha ou por um infortúnio da vida, porque o que uma vida humana em desenvolvimento precisa é de cuidado e isso toda pessoa é capaz de prover, sejam homens, sejam mulheres ou identidades outras. Como disse, mais ou menos, o Nelson Mandela, todo mundo é capaz de aprender e nós podemos aprender a cuidar. Os homens precisam habitar mais o espaço do cuidado, do cuidado de si e do cuidado com o outro. Reivindicar este espaço e ocupá-lo”, conclui.


Imagem: Reprodução/BBC Film

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