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23/05/2023 tecnologia

O segredo à frente da Flash Vip 101

Arte de capa da revista carrega mais tecnologia e estudo do que você imagina

O número #101 da revista Flash Vip esconde um diferencial nunca antes utilizado em seus 20 anos de edição, e que só se tornou possível recentemente, com o avanço do poder computacional. Quem vê a arte de capa – que reflete a reportagem Especial “Uma noite mal dormida” – exibindo a bela ilustração de uma moça adormecida, com cores e gradientes suaves, jamais diria que ela foi gerada de forma automática e quase instantânea por uma máquina. A não ser pelo detalhe denunciante do pássaro sem cabeça, que foi mantido para simbolizar o surrealismo dos sonhos.

A capa da FV 101 foi gerada por uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA) chamada Lexica.art, a partir de estudos e experimentações do designer responsável pela diagramação da edição, Denis Cardoso. Ele conta que o processo parte da mesma lógica de criações tradicionais, com a elaboração de um briefing, leitura e compreensão do conteúdo. Depois, parte-se para a parte prática utilizando a ferramenta.

“A partir de um comando, são adicionadas as características conceituais e técnicas que gostaria que a imagem possuísse. O resultado varia de acordo com a capacidade de gerar um bom prompt. Quanto mais detalhado, melhor tende a ser a arte, no sentido de ser mais próximo ao briefing”, explica Denis. Mas como é que um programa consegue entender o que é solicitado e gerar uma arte tão fidedigna e detalhada? Bom, este é o poder que estamos conhecendo com o aprimoramento das IAs, que agora são capazes de compreender e fazer relações entre nossa linguagem e, munidas de um gigante banco de dados de fotografias, imagens e ilustrações coletadas da internet, conseguem gerar  resultados cada vez mais próximos do comando dado. Mas isso eu deixo para você entender um pouco melhor na Flash Vip #102.

Apesar de ter a aparência de uma ilustração realista, Denis conta que as possibilidades são inúmeras, e que experimentou também com outros estilos artísticos. “O título ‘Uma Noite Mal Dormida’ parece pedir uma imagem de insônia, mas essa seria uma abordagem comum. Minha ideia foi fugir da ideia do cansaço. O aspecto surrealista da imagem, o detalhe de sonho que apontei no comando, o pássaro estranho, as cores… Acredito que essa imagem evoca o sono, ou a falta dele, mas sem que isso se transforme em uma imagem de sofrimento, já que não é característica da revista esse tipo de abordagem, e também porque, partindo do princípio que quem sofre de insônia, já conhece sua doença e não é interessante tratar do assunto de forma pesada”.

Mas e no final das contas, a imagem é de autoria do designer ou de uma máquina? O diagramador responde que a creditação é atribuída a quem deu os comandos necessários para gerá-la, o que não quer dizer o mesmo que direitos autorais –  esta ainda é uma discussão que precisa acontecer (novamente, confira na FV 102 (; ).

Apesar disso, o uso de IAs em diferentes áreas do mercado de trabalho é uma realidade cada vez mais abrangente. Mesmo em fase de testes e com alguns erros – como o próprio passarinho descabeçado na capa da FV 101 e outras anomalias em mãos, expressões e cabelo, ou até o famigerado ChatGPT com seus dados atualizados somente até 2021 – estes softwares vêm facilitando e muito tarefas que antes dependiam exclusivamente da ação humana. E algumas delas estão há um bom tempo em nossas vidas sem nem mesmo percebermos.

“Já existem muitas ferramentas no dia a dia dos profissionais criativos que utilizam IA dentro de seus processos. Seja o app que uso no smartphone para editar foto, seja no programa de edição de imagens que uso no computador. Normalmente, essas tecnologias tendem a auxiliar e tornar o trabalho mais rápido e produtivo. Por outro lado, sem o devido cuidado, tendem a pasteurizar o trabalho criativo. Isso sem falar no custo humano da massificação desregulamentada do uso de IAs. Então, enquanto profissional, acho que existem muitos pontos positivos que podem auxiliar os criativos”, finaliza Denis, trazendo também o alerta de que ferramentas poderosas como estas, sem supervisão, podem resultar no fim de profissões e mercados inteiros – o que não é do interesse de ninguém.

AUTOR

Fernando Bortoluzzi

Jornalista e explorador em busca de expansão e conexão.
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