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21/03/2022 cultura

Magnólia: Marina Sena e MC Tha conversam com a FV

Artistas concederam entrevistas exclusivas à FV sobre carreira e a arte alternativa; Atrações locais e nacionais se apresentaram no sábado (19) no Magnólia Festival

Artistas locais e nacionais levaram o público à euforia nesse sábado (19) no palco montado na Fasul Eventos para a 5ª edição do Magnólia Festival – o maior festival de música do Oeste de Santa Catarina. O projeto foi contemplado pelo Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó, principal política pública cultural desenvolvida na cidade, e trouxe shows locais, como o grupo de hip-hop Agoro e o coletivo feminino Manivas, apresentando ritmos da cultura popular.

A programação trouxe também shows nacionais, como Batuk Freak, de Florianópolis; o maranhense VINAA; a performance élfica da multiartista Potyguara Bardo, de Natal-RN; e a banda de rock alternativo Selvagens à Procura de Lei, de Fortaleza-CE. Também se apresentaram artistas que estarão nos palcos do Lollapalooza Brasil neste final de semana: a paulista da Zona Leste, MC Tha; e a compositora de “Por Supuesto”, um dos hits mais recentes na música pop brasileira, Marina Sena. As duas concederam entrevista à Flash Vip para falar sobre carreira e o cenário artístico alternativo.


A quinta atração a se apresentar na noite de sábado (19) foi a banda de rock alternativo Selvagens à Procura de Lei.


MC Tha

Com uma apresentação que misturou funk, pop e uma brilhante energia espiritual, Thais Dayane da Silva, a MC Tha, encantou a plateia com sucessos do álbum Rito de Passá (2019), que garantiu à artista indicações de Revelação do Ano e Melhor Música Alternativa no Prêmio Multishow e no Women's Music Event Awards. A paulista dedicou músicas aos solteiros, aos apaixonados, fez ainda uma homenagem às vítimas da Covid-19 e incluiu em sua setlist clássicos como Boate Azul e Jorge da Capadócia.

Flash Vip. Você começou a cantar em meio ao funk na Zona Leste de São Paulo. Na época, você era uma das primeiras mulheres nesse meio, e se posicionava como necessidade de conquistar mais espaço para as vozes femininas no funk. Daquela época para hoje, de que maneira você acha que esse cenário mudou, e como ele mudou você? 

Mc Tha. Eu precisei me afastar de quem eu era para conseguir me enxergar realmente. Esse contraponto foi fundamental para o meu crescimento e segurança de continuar a trilhar meu caminho independente das tendências do funk ou do pop e a criar minha própria estética de acordo com as vivências e aprendizados ao longo do tempo. Mudou a lógica de pensar só no presente, hoje eu penso na criação voltando pro passado e mirando numa nova construção para o futuro. Caminho em outro tempo! 

Nas suas músicas, principalmente no álbum Rito de Passá, você traz muito das suas raízes, da herança nordestina, da sua espiritualidade. Gostaria de saber como funciona o seu processo criativo para compor, tanto as músicas quanto a sua estética. Quais as principais referências internas e externas que você visita e utiliza para criar?

Com certeza as minhas maiores inspirações são os espaços que frequento, as pessoas que convivo, as questões que me atravessam. O trabalho da MC Tha é falar dela e das coisas que rodeiam e assim conseguir tocar o outro porque no fundo todo mundo se assemelha em algum aspecto. Estar em movimento é a minha gasolina para criação!

A arte sempre vem carregada com um propósito, seja ele organizar ideias, expressar sentimentos, provocar reflexões, mas tem também o papel social e político, que é ainda mais forte no meio alternativo. Gostaria que você falasse um pouco sobre os principais propósitos que te levam a fazer a sua arte.

Meu primeiro propósito é me agradar e me aliviar, porque tenho plena certeza que não sou eu quem vai mudar o mundo. A partir disso, entendo que as questões que me rodeiam, os resgates culturais que trago, podem ser naturalizadas para que o caminho de outras e outros possa ser mais leve que o meu. Tem corpo que não tem como performar outra coisa a não ser o que é! Então o que eu sou já é político demais. 

Você lançou o Rito de Passá em 2019 e, de lá para cá, esteve colaborando em outros projetos. Como estão os planos para mais um projeto seu autoral? Tem novidades vindo em breve?

Lancei Rito de Passá há três anos. O tempo passou rápido demais e a pandemia colaborou com isso, né? Estou no tempo de caminhar para o meu segundo álbum, mas antes acho importante criar uma transição entre um álbum e outro, já que várias atualizações da MC Tha foram “barradas” por tudo o que passamos. Amadureci demais e estamos preparando um trabalho para ser lançado antes do novo álbum. Algo que seja a continuidade de Rito de Passá e ao mesmo tempo a introdução do próximo material. 

Em Chapecó, temos muitos artistas e coletivos independentes, que vão do rap, hip-hop, MPB, até o rock, muitos deles que exploram uma pegada mais alternativa. Você também saiu de um meio, que era um funk mais tradicional para formar parcerias – a mais importante delas, talvez, o Jaloo – e brincar mais com a diversidade de gêneros e sonoridades. Que dica você daria para esses artistas chapecoenses que querem explorar e crescer mais nesse meio alternativo?

Eu acho que não podemos ter medo de criar e de testar. Ter a paciência de dar um passo de cada vez e entender que as coisas não vão acontecer da noite pro dia. Tirando a parte romântica, ser artista é um trabalho e em uma empresa as pessoas geralmente começam com funções, espaços menores e vão crescendo. Não se apegar ao tradicional também é especial para você realmente criar algo com sua cara. E apesar de contraditório, duvidar e se questionar é muito bom para que o artista nunca caia na zona de conforto. 


Sexta atração da 5ª edição do Magnólia Festival, MC Tha subiu ao palco com sua energia e estilo únicos, unindo funk, pop e espiritualidade.


Marina Sena

O público deitou no sorriso de Marina no momento em que ela subiu no palco. E ela fez questão de mostrar que aquele é o seu lugar. A ex integrante das bandas “A Outra Banda da Lua” e “Rosa Neon” fez a plateia vibrar ao som de Por Supuesto (com direito a bis) e outras composições do álbum De Primeira, sucesso de estreia da carreira solo de Sena, lançado em 2021. A vencedora de três categorias do Prêmio Multishow, entre elas Revelação do Ano, categoria vencida também no Women's Music Events Awards e no Prêmio APCA e também indicada no TikTok Awards Brasil deu um show de leveza, simpatia e o glamour da nova geração da música pop brasileira, não deixando nem mesmo faltar uma das favoritas do público de seu projeto passado: Ombrim.

Flash Vip. Você já afirmou que desde criança sonhava em seguir na carreira da música e ser famosa, ao mesmo tempo que enfrentou barreiras e recebeu muitos comentários desencorajantes. De onde a Marininha, que saiu lá do interior de Minas, tirou essa força para persistir e chegar à Marina Sena que é hoje?

Marina Sena. Eu acho que é porque, como não me enquadrava muito no personagem que era pedido, eu falei “ah, já que eu não me enquadro, então eu vou dar a louca e vou fazer o que eu quiser”. Basicamente foi isso, muita convicção.

Você já trabalhou em vários projetos musicais, e o De Primeira foi um tiro certeiro. Gostaria que você falasse um pouco sobre seu processo criativo, tanto para a estética quanto para as músicas do álbum.

Olha, eu conto com pessoas muito boas em tudo o que fazem. Tanto quem faz o meu styling, quem faz minha direção criativa, quem faz minha produção musical. Todas são pessoas que são muito, MUITO fodas, muito inteligentes, sabe? E aí fica fácil, né? Você ter uma equipe muito boa assim, aí já tem a sua criatividade e tudo, e junta com a criatividade de mais gente criativa, tudo fica perfeito. É realmente confiar na equipe, confiar nas pessoas, confiar no talento que cada pessoa pode trazer pro projeto. Isso faz a coisa ter um caldo, faz a coisa ficar grande, sabe?

Você diz que não consegue fazer uma música parecida com outra, trabalhar um projeto da mesma forma que trabalhou outro. Se a Marina do De Primeira sentasse numa mesa de bar com a Marina do próximo disco, que você diz já ter pronto, como você acha que seria essa cena e a conversa entre as duas?

Eu acho que uma ia ser fã da outra. Porque assim, os dois, mesmo sendo uma coisa diferente da outra – acho que o próximo disco vem com outra roupagem – mas mesmo assim, é a mesma Marina, sabe? É uma Marina que condiz com a outra Marina.

Revelação do ano no pop nacional: confira nossa coluna de música no guia cultural da revista Flash Vip

Gostaria de ouvir de você como é ser mulher e artista solo independente neste momento político e social no Brasil, onde surgiu também essa discussão sobre a importância da arte, principalmente durante a quarentena. Quais são os desafios e as responsabilidades que você carrega na sua arte?

Eu acho que hoje, uma responsabilidade que eu tenho muito é com o que eu falo, porque eu sei que tudo o que eu disser vai gerar um buzz, ‘não pode falar nada mais’. Então, tenho muito cuidado com o que eu falo, com o que eu demonstro e com as minhas opiniões. Antes eu dava minhas opiniões, falava no Twitter qualquer coisa, e agora já não é mais assim. Agora eu penso melhor antes de falar qualquer coisa. Mas a responsabilidade maior é com a própria arte, é com me superar, como vou ficar cada dia melhor.

Em Chapecó existem diversos artistas e coletivos independentes, alguns deles que tiveram a chance de se apresentar essa semana por meio do Magnólia Festival. Como você vê seu papel em participar de iniciativas como a do Magnólia, de trazer artistas nacionais para cidades do interior do Brasil, e colocar jovens e novos artistas independentes em contato com personalidades que muitas vezes são grande inspiração para eles? Que mensagem você deixa para esses novos artistas?

Olha, não é fácil. É realmente um caminho que você tem que querer muito porque existem muitas barreiras, principalmente quando você é artista independente. Barreiras que a gente mesmo tem, de às vezes não saber como fazer as coisas que tem que fazer. Às vezes não sabemos como subir uma música na internet, entendeu? E não tem ninguém pra ensinar, você vai ter que subir sozinho, organizar sua equipe sozinho, entender como as coisas funcionam porque é você que vai ser o chefe, que vai ter que organizar as pessoas. E é realmente uma tarefa difícil porque não tem ninguém que ensina isso pra gente, que pega e faz a gente, entendeu? Não tem uma pessoa que me pegou e falou “ai, vamos fazer essa artista aqui agora, é assim que se faz e ‘tatata’”. Uma coisa que cada dia que passa é eu tá aprendendo mesmo. Então a dica que eu dou pra cada artista que tá começando, assim, eu também tô começando, vamos dizer, né? Tem um tempo, mas de uma forma estruturada, é há pouco tempo. Então é paciência para se estruturar e confiar sempre no outro, confiar na sua equipe, em quem tá trabalhando com você e dar o aval para a outra pessoa agir dentro do seu projeto, porque trabalhar com pessoas é a coisa mais importante.


A nova diva pop do Brasil foi a sétima atração a se apresentar no Magnólia Festival 2022. O hit de Marina Sena 'Por Supuesto' conta com mais de 69 milhões de reproduções na plataforma de streaming Spotify.


A próxima edição do Magnólia Festival já tem data marcada e atração principal confirmada. A cantora, compositora, atriz e artista visual Liniker se apresenta ainda este ano, em 22 de outubro, na 6ª edição do Magnólia Festival, que será realizada no Parque de Exposições Efapi.

Confira mais clicks da 5ª edição do Magnólia Festival em nosso Instagram: @fvnasredes


Fotos: Fernando Bortoluzzi

AUTOR

Fernando Bortoluzzi

Jornalista e explorador em busca de expansão e conexão.
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