Home > Sociedade > Hoje não é um bom dia.
12/08/2022 Sociedade

Hoje não é um bom dia.

Uma análise da série 'Bom dia, Verônica'

Há alguns dias terminei de assistir a 2ª temporada de Bom dia, Verônica e gostaria de fazer uma análise deste audiovisual que, na minha visão, traz fortes reflexões da atualidade. Por não ser uma resenha, irei citar algumas cenas da série e, caso você ainda não tenha assistido ou finalizado de assistir e não gosta de spoilers, sugiro deixar a leitura para uma próxima oportunidade. Mas, caso não se importe com isso, siga em frente, caro leitor.

Bom dia, Verônica é um seriado brasileiro da Netflix de suspense e drama, baseado na obra de Raphael Montes e Ilana Casoy, dirigido por José Henrique Fonseca, Izabel Jaguaribe e Rog de Souza. Sua primeira temporada foi lançada em 2020 e tem como foco a temática da violência doméstica. Dois anos depois, a segunda temporada volta com maior intensidade. O missionário Mathias Carneiro, interpretado por Reynaldo Gianecchini, se aproveita da fé e vulnerabilidade dos fiéis para persuadir, enganar e abusar sexualmente - neste caso, o alvo são as mulheres.   

O que me chocou foi a cena auge da trama, na qual o segredo da família do missionário é revelada: a então esposa de Mathias, Gisele (Camila Márdila) é, na verdade, filha dele e vem sendo estuprada por ele. Ângela, interpretada pela atriz Klara Castanho, é fruto do estupro e descobre que o missionário deveria ser seu avô, ao invés de seu “pai” (entre aspas, porque o significado de pai é bem diferente do papel interpretado na série).

Ângela, de 16 anos, assim como a mãe, é silenciosamente abusada pelo “pai”. Felizmente, é desmascarado pela policial Verônica (Tainá Müller) e Mathias, mesmo tendo sido denunciado por várias mulheres das quais abusou, fica em prisão domiciliar - pelo menos até então.  

Ao buscar dados relacionados à violência contra menores de idade, o Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, levantamento feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revela que de 2017 a 2020 - um recorte de apenas três anos - 180 mil crianças e adolescentes foram violentados sexualmente, uma média de 45 mil por ano. E uma pesquisa de 2018 do Atlas da Violência mostra que em 30,13 % dos casos de violência sexual infantil, o abusador é amigo ou conhecido da família; 12,09% deles são padrastos e madrastras; e 12,03, pais e mães. 

Os dados revelam que na maioria das vezes o abusador é alguém próximo da criança. Ou seja, muitos daqueles que deveriam acolhê-las e protegê-las, as violentam. E o alvo maior sempre vai ser o mais vulnerável, porque tem dificuldades para se defender e pedir ajuda. 

Bom dia, Verônica é uma série de cunho social necessária! Estes assuntos precisam ser debatidos e a violência contra mulheres, crianças e adolescentes precisa ser combatida. Vale a pena assistir o seriado, mas é importante lembrar que pode ser um gatilho e não te fazer bem. Também sugiro que, caso decida assistir, não maratone. Veja aos poucos, porque as cenas são fortes e precisamos de tempo para assimilar a história.

AUTORA

Mirella Schuch

Futura jornalista. Curiosa e amante da escrita.
LEIA TAMBÉM