Egon LaSand foi coroado King of Kings, primeiro concurso a nível nacional da categoria
O chapecoense Kairo Madah, de 25 anos, foi o vencedor de um concurso de Drag Kings, que aconteceu em São Paulo no último domingo (5). O King of Kings é a primeira competição do gênero e contou com 15 participantes. Egon LaSand – nome artístico do personagem transformista de Kairo – foi coroado pelas melhores performances da segunda edição do evento, que teve como palco o Teatro Maria Della Costa.
A arte drag vem ganhando cada vez mais destaque na cultura pop, principalmente com a popularização do reality show Ru Paul’s Drag Race, em que artistas transformistas – as queens – competem entre si para coroar uma vencedora. Este gênero artístico performático envolve muitas linguagens artísticas: a arte visual, o teatro, a dança e a música. São nestes moldes que aconteceu o King of Kings, mas com uma diferença de modalidade. O drag king é um personagem masculino, mas não segue fielmente o retrato do homem padrão da sociedade, e é comumente trabalhado por mulheres cis (que se identificam com o gênero com que nasceram), homens trans, travestis e pessoas transmasculinas não-binárias.
A competição envolvia duas provas. A primeira foi um desfile pelo palco, em que cada king deixou sua primeira impressão para os jurados e a plateia. Depois, cada competidor performou um número artístico, dublando músicas, dançando e mostrando seus diferentes talentos. A coroação de Egon foi unânime entre os três jurados, os drag kings Lorde Lazzarus — idealizador do concurso — e Vicente Van Goth, além de Carol Meyer, artista visual e arte educadora. O segundo lugar ficou com o drag king Deimos, de Florianópolis/SC, e o terceiro com Hera Now, de São Paulo. O evento foi realizado pela Plasticine Produções com recursos próprios.
Kairo trabalha com a arte drag king desde 2017, e o que começou com um hobby acabou com mais uma conquista para este segmento artístico que conta com apreciadores em Chapecó. “É muito bom ganhar e levar essa coroa para a minha cidade. É gratificante pensar que fui tão longe e pela experiência mesmo, ver coisas novas, me inspirar e de quebra levar a vitória para o Oeste catarinense. Eu não esperava ganhar, porque tinha muita gente boa lá, em níveis muito elevados, então foi uma grande surpresa. Também levo muito aprendizado, inspirações e experiências positivas para melhorar ainda mais o meu trabalho”, conta.
O professor e artista visual celebrou a conquista que representa, além de uma forma de arte, uma forma de resistência. “Sou muito grato pela oportunidade de conquistar isso, por todas as pessoas que lutaram para podermos fazer isso hoje, principalmente as pessoas trans e travestis que enfrentaram inúmeras dificuldades para levar a sua arte a diante. É algo que me inspira e vai inspirar outras pessoas da nossa região a desbravar a arte drag”.
A persona drag de Kairo começou a querer dar as caras ainda jovem, quando gostava de colocar as roupas do pai e da mãe e brincar com os retratos da masculinidade, além de criar personagens, desenhar e atuar. Com o passar do tempo, a brincadeira evoluiu para uma forma de expressão artística e, posteriormente, pessoal. “Comecei a pensar sobre questões de gênero e percebi que não me enquadrava no gênero que me era atribuído, que era o feminino. Então comecei a refletir mais sobre isso e buscar me entender melhor. O Egon surgiu nesse contexto, eu o criei para me entender e explorar os signos da masculinidade”.
Após pesquisar e fazer experimentações, Egon lhe permitiu entender melhor e explorar mais as categorias de gêneros. “O personagem é uma coisa e eu sou outra, são pessoas diferentes, mas ele me ajudou muito neste processo. Durante minha performance no King of Kings, senti que a minha apresentação tocou os jurados, e isso me impressionou. A plateia ficou muito envolvida, interagiu bastante, e isso foi muito bom para mim porque gosto desse contato, rola um calor humano e uma energia muito boa quando você está no palco fazendo essas trocas”, relata o rei dos reis do transformismo drag king brasileiro.
Fernando Bortoluzzi