Mais de 6 mil pessoas coloriram a avenida principal de Chapecó na 6ª Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense
Lar da maior parada LGBTQIAP+ do mundo, o Brasil cultiva com cada vez mais força essa tradição de manifesto e cidadania que remonta mais de 50 anos. São Paulo, em sua 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ realizada no último dia 11, reuniu cerca de 4 milhões de pessoas no evento, e inspira o movimento em outras capitais, assim como em cidades do interior. Um importante exemplo é Chapecó, que recebeu neste domingo (25) a 6ª Parada de Luta LGBQIA+ do Oeste Catarinense, com público de mais de 6 mil pessoas.
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Com o lema Saúde, Trabalho e Educação, a Parada iniciou com atos políticos na Praça Central de Chapecó. Depois, o público pôde apreciar 10 apresentações artísticas. O palco recebeu Kauan Ribeiro, Veronika, Háries, Luna Fact, Meshilaaa, Egon LaSand, Nayara Sneyper, Cristielly Wynn, Flávia Pacchely e Safyra Parky. O presidente da União Nacional LGBT, Andrey Lemos, veio de Brasília. Também estiveram presentes caravanas de Xanxerê, Xaxim, Herval d' Oeste, Pinhalzinho e São Miguel do Oeste.
Após as atrações culturais, o público desceu a Av. Getúlio Vargas seguindo o trio elétrico, protestando por igualdade de direitos e respeito à comunidade. O presidente da UNA LGBT Chapecó, Gerson Junior Naibo, explicou que a temática deste ano pautou elementos que são fundamentais para a população LGBT+ ter uma vida com dignidade. “Precisamos da garantia e permanência nas escolas, na saúde e nos empregos, tendo as nossas identidades respeitadas. Não podemos esquecer também do histórico das nossas paradas e lutas que, a cada ano, com uma pauta específica e representativa, leva um debate eminentemente político para as massas da sociedade do Oeste de Santa Catarina”.
Nesta edição, o evento contou com a parceria do Almasty Hotel, no qual o público de fora pôde se hospedar com desconto especial, o que fomentou a economia local. Quem mais uma vez esteve presente apoiando a Parada foi o SAE - Serviço de Atendimento Especializado em HIV/Aids, que concedeu orientações sobre as IST’s, distribuiu preservativos masculinos, femininos, gel lubrificante e autotestes para HIV, e também realizou testagem rápida para HIV, sífilis, hepatites B e C. O encontro contou ainda com a Defensoria Pública, que ofereceu orientações jurídicas sobre retificação de registro civil e outras demandas que afetam a população LGBTQIA+.
Ademir Marangoni, de 59 anos, é secretário de finanças da UNA LGBT Chapecó e se considera um subversivo e sobrevivente em um mundo violento, em especial para a população LGBT+, que vive em média 35 anos, segundo estatísticas. “Vivemos num país onde se registra uma morte por homofobia a cada dezesseis horas, onde 11 pessoas trans são agredidas a cada dia, onde a média anual de mortes da nossa população beira a 200 e que em média 83% são de formas cruéis. Vivemos num país que lidera o ranking de assassinatos de pessoas trans no mundo. Então quando falo que me considero um transgressor, é porque nossa população é tão cheia de vida e ao mesmo tempo é ceifada em tão tenra idade. A gente não pode tolerar a intolerância”.
Ademir participou de várias edições da Parada em Chapecó e faz parte do coletivo desde 2019. Ele lembra que a UNA LGBT da cidade surgiu em 2016, através de um grupo de amigos que não suportou assistir calado o atentado ocorrido naquele ano em uma boate LGBT de Orlando, nos Estados Unidos, que vitimou mais de 50 pessoas. E foi a partir desta união que se consolidou a primeira Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense, com público de cerca de 800 pessoas.
A multidão presente na Parada deste ano foi oito vezes maior que a da 1ª edição, o que demonstra que cada vez mais pessoas estão se somando à luta. “A UNA quer ocupar os espaços de fala e é o que de fato estamos fazendo, realizando formações, simpósios, palestras. Criamos eventos como o Cores no Parque, Ocupa Sapatão, o carnaval de rua (onde a população pode se divertir com menos hostilização), além de conseguir parcerias importantes como a Humana Sebo e Livraria, a Kombi Livros, o Gapa Chapecó e o Cubo Multicultural. Começamos fóruns de debate com a Secretaria da Saúde, estreitamos nossos laços com a Defensoria Pública e o Serviço de Atendimento Especializado em HIV/Aids. No final do ano passado, conseguimos, através do Ministério Público, implantar a PrEP, uma política de saúde preventiva e que hoje está disponível no Sistema Único de Saúde com o objetivo de reduzir a transmissão do HIV. No ano passado, realizamos formações para os profissionais de saúde da cidade para oferecer um serviço mais humanizado para a população LGBT+. Queremos acabar com os estigmas e lançar luz sobre problemas que são tão espinhosos para a nossa população. Só de pensar o que foi esta Parada, com falas tão empoderadas, sorrisos estampados, com gritos vibrantes, me dá uma adrenalina sem precedentes, me sinto orgulhoso de fazer parte disso”, expressa.
O presidente Gerson Naibo afirma que a 6° Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense foi um sucesso e completa: “É sempre uma sensação bastante nostálgica e de alegria estar reunido com uma multidão para lutar por nossos direitos que, muitas vezes, são esquecidos pelo Estado e pelas políticas públicas de saúde, trabalho e educação. Ficamos imensamente agradecidos a cada pessoa que saiu do conforto de casa para estar com a gente nesta luta gigantesca, de construção da democracia e de uma sociedade mais plural e de direitos”, finaliza.
> Confira também os registros da 5ª Parada de Luta, realizada em 2022
Quem vê paradas do orgulho LGBQIAP+ como a de São Paulo, que figura no Guinness World Records como a maior do gênero desde 2006, com 2,5 milhões de pessoas – e quebrando ainda seu próprio recorde na retomada após a pandemia em 2022, reunindo público de mais de 4 milhões – não imagina que esta tradição começou após uma batida policial em um bar de Nova York.
Exaustos da perseguição e da arbitrariedade que tinha foco em bares tidos como refúgios para gays, lésbicas, transsexuais e travestis, a noite de 28 de junho de 1969 tornou-se a faísca que daria início à luta por respeito. A clientela do Stonewall Inn, ao lado de simpatizantes da causa, inverteu a ordem e revoltou-se contra os policiais opressores em embates violentos que se alongaram por dias. Um ano após a Revolta de Stonewall, a data foi celebrada com um evento chamado de Dia da Libertação da Christopher Street, que ficou marcada como a primeira marcha do orgulho gay.
54 anos depois, a tradição se multiplicou, com eventos cada vez maiores realizados em todas as partes do mundo (exceto nos mais de 70 países que tratam a homossexualidade como crime), atraindo públicos até mesmo de lugares distantes e contribuindo para a economia através do turismo e a geração de empregos. Depois de São Paulo, as maiores paradas da diversidade acontecem em São Francisco, Toronto, Madri, Amsterdã, Tel Aviv, Sydney, Buenos Aires, Cidade do México e Nova York.
Somente no Brasil, estima-se que ao menos 297 paradas tenham sido realizadas em 2019, segundo levantamento da Rede Guiya. A tendência é que este número tenha crescido após a pandemia com novas cidades sediando eventos do gênero, como é o caso de Pinhalzinho, que realizou no último dia 17 a 2ª edição da sua Parada LGBTQIAP+. A maior de Santa Catarina acontece em Florianópolis, e é um atrativo para turistas de toda a região Sul. Estima-se que mais de 70 mil pessoas participaram da 15ª edição do evento, realizada em setembro de 2022.
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