Especialistas alertam sobre os impactos da privação do sono na saúde
No dia 14 de março, celebramos o Dia Mundial do Sono, uma data para refletirmos sobre a importância desse aspecto essencial da nossa saúde. No entanto, vivemos em uma sociedade que supervaloriza o cansaço, negligenciando o sono, suprimindo necessidades básicas como descanso, alimentação e atividade física em nome da produtividade. O resultado? Um impacto profundo no bem-estar e no funcionamento do organismo. O Otorrinolaringologista e Médico do Sono, Dr. Rodrigo Kohler, alerta que a privação do sono acarreta consequências severas, que vão desde irritabilidade e fadiga extrema até doenças crônicas graves.
O número de horas que uma pessoa precisa dormir diariamente varia de acordo com a sua faixa etária e ritmo biológico. Mas algo é unânime: se você não se sente descansado e disposto após acordar, algo está errado. “Nosso corpo depende do sono para manter o equilíbrio. Durante esse período, recuperamos energia, liberamos hormônios essenciais, fortalecemos o sistema imunológico e consolidamos a memória. Contudo, o estilo de vida moderno tem empurrado as horas de descanso cada vez mais tarde, levando a um déficit crônico de sono, o que pode resultar em consequências sérias para a saúde”, explica Dr. Kohler.
A privação do sono não afeta apenas o cansaço diário. A ciência já demonstrou que quem dorme mal tem uma expectativa de vida menor, pois há um aumento do risco de infarto, derrame cerebral, hipertensão, obesidade, diabetes e arritmias. São cerca de 100 distúrbios do sono conhecidos, que afetam, pelo menos, um terço da população. No entanto, muitas pessoas desconhecem que sofrem desses problemas, pois sintomas como sonolência diurna são frequentemente ignorados. “Um adulto que sente necessidade constante de dormir fora do horário pode estar enfrentando um problema sério. Muitos acreditam que dormem bem só porque conseguem pegar no sono em qualquer lugar, mas isso pode ser um indicativo de um sono não reparador”, afirma o especialista.
Outro sinal de alerta comum é o ronco, frequentemente subestimado. “Há quem diga que ronca porque está cansado, mas, na realidade, o ronco é um sinal de esforço respiratório durante o sono. Isso pode indicar condições graves, como a apneia do sono, e afetar até quem dorme ao lado”, alerta Dr. Kohler. A apneia é uma condição séria, caracterizada por pausas na respiração durante o sono devido à obstrução das vias aéreas. Além de afetar o descanso, a doença aumenta o risco de problemas cardiovasculares, metabólicos e neurológicos, e o diagnóstico correto é essencial para evitar complicações.
O impacto do sono na saúde vai além das doenças cardiovasculares. Problemas psicológicos e comportamentais, como ansiedade e depressão, são frequentemente agravados pela insônia. A privação do sono também pode comprometer o metabolismo, aumentando o risco de obesidade e resistência à insulina. Um estudo da Universidade de Pittsburgh mostrou que dormir mal eleva os níveis de triglicerídeos (colesterol ruim) e reduz os níveis de HDL (colesterol bom), comprometendo a saúde do coração.
Apneia do Sono e o tratamento com o CPAP
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio caracterizado por interrupções repetidas da respiração durante o sono devido ao bloqueio das vias aéreas superiores, levando a despertares frequentes e sono não reparador.
Conforme a Academia Brasileira do Sono, 33% da população adulta tem apneia do sono, ou seja, 1 a cada 3 pessoas. “Os perigos associados à AOS são significativos. A apneia do sono aumenta o risco de hipertensão, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), arritmias cardíacas e acidentes de trânsito devido à sonolência diurna excessiva”, alerta a fisioterapeuta cardiorrespiratória, Danielle Almeida, responsável pela Ottosono – Centro de Diagnósticos e Equipamentos.
Além disso, a AOS está frequentemente correlacionada com outras condições de saúde, como diabetes e obesidade. “Cerca de 50% dos pacientes diabéticos têm apneia do sono, e 70% das pessoas com apneia ou hipopneia do sono estão obesas, subindo para 80% entre obesos mórbidos”, afirma Danielle, alertando para a importância do diagnóstico precoce para evitar complicações.
Após a avaliação por um médico, o tratamento mais comum para AOS moderada a grave é o uso do CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), um dispositivo que mantém as vias aéreas abertas durante o sono. Danielle ressalta a importância do acompanhamento profissional nesse processo: "A adaptação ao CPAP pode ser desafiadora para alguns pacientes. Na Ottosono, oferecemos suporte completo, desde o ajuste adequado da máscara até a leitura dos relatórios e a manutenção do equipamento, garantindo a eficácia do tratamento e o conforto do paciente”.
Dados mostram que, embora o tratamento com o CPAP seja eficaz, a taxa de adesão varia. Fatores como desconforto com a máscara, sensação de claustrofobia e falta de suporte adequado podem influenciar na continuidade do uso. Por isso, o acompanhamento de profissionais especializados é essencial para melhorar a adaptação e os resultados do tratamento.
A modernidade em desserviço do descanso
Outro fator que influencia diretamente a qualidade do sono é o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir. A luz branca emitida por telas de celulares e tablets inibe a produção de melatonina, hormônio essencial para o sono, mantendo o corpo desperto por mais tempo. O hábito de checar mensagens ou redes sociais na cama pode resultar em uma noite mal dormida e fragmentada, prejudicando a recuperação do organismo.
Além disso, hábitos como o uso de medicamentos estimulantes para estudar ou trabalhar por longas horas podem trazer prejuízos graves à saúde. Esses fármacos interferem no ciclo do sono e podem causar dependência, taquicardia, dores de cabeça e até impotência sexual. Por isso, buscar ajuda especializada ao enfrentar dificuldades para dormir é essencial. “Muitas pessoas recorrem à automedicação para induzir o sono profundo, mas isso é um erro. O uso indiscriminado de remédios pode levar à dependência e mascarar problemas que precisam ser tratados corretamente”, alerta Dr. Kohler.
O sono é um pilar fundamental para a saúde física e mental. A melhor forma de garantir noites bem dormidas é identificar sinais de alerta e buscar acompanhamento médico adequado.
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Uma das práticas mais importantes para manter a saúde em dia é dormir bem. O sono de qualidade, sem dúvida nenhuma, é fundamental para o bem-estar físico e mental. Com o tema "Faça da Saúde do Sono uma Prioridade", a Semana do Sono 2025 acontece de 14 a 20 de março em todo o Brasil, promovida pela Academia Brasileira do Sono, que engloba a Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) e a Associação Brasileira de Odontologia do Sono (ABROS).
Carol Bonamigo