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18/12/2023 cultura

Leia os livros proibidos

A história da proibição dos livros, infelizmente, não está morta.

A história da proibição dos livros, infelizmente, não está morta. Ela continua sendo um expediente de grupos extremistas e fanáticos religiosos que se utilizam da retórica da inadequação etária para atacar e promover censura, forçando as bibliotecas públicas a retirarem de seus acervos livros que abordam temáticas como a identidade racial e de gênero, sexualidade, lgbtqia+ e justiça social. Nos Estados Unidos, a PEN América – ONG dedicada à defesa da liberdade de expressão – vem denunciando a crescente atuação desses grupos, que levou, só nos últimos anos, à censura de 1.650 títulos, em mais de 26 estados norte-americanos. Na lista estão livros dos autores como Toni Morrison, John Green, Chimamanda Ngozi Adichie e Art Spiegelman. O mais banido é o livro de Maia Kobabe intitulado Gender Queer: graphic novel.

Em resposta, foi criada a Semana dos livros banidos, evento anual, realizado na última semana de setembro, que envolve bibliotecários, livreiros, editores, jornalistas, professores e leitores de todos os tipos em defesa da liberdade de ler e da livre circulação do livro. Durante uma semana, as bibliotecas e livrarias destacam em suas prateleiras obras censuradas, além de manter cartazes incentivando a leitura e promovendo debates sobre livros malquistos pelos grupos extremistas. 

O Brasil também possui um histórico de ataques aos livros, sendo mais escancarados nos períodos de exceção democrática. São conhecidas as fogueiras acesas em 1937, durante o Estado Novo, em que autoridades incendiaram mais de 1.800 livros, a maioria deles, assinados por Jorge Amado. Também, durante a Ditadura de 1964, títulos foram recolhidos, editoras e autores foram censurados, bem como, a simples posse de determinadas obras justificou prisões e torturas. Foi nesse período que aconteceu um dos momentos mais tristes da história de Santa Catarina: o incêndio dos livros da livraria Anita Garibaldi, no centro de Florianópolis. 

Em novembro de 2023, o governo de Santa Catarina divulgou um documento visando a retirada de nove títulos das bibliotecas escolares. Sem citar qualquer estudo ou argumento, condena estes livros a ficarem em lugar inacessível aos estudantes. Triste realidade de nosso estado que, como se não bastasse assistir a passos largos o sistemático desmantelamento das bibliotecas escolares – pela ausência de espaço físico, falta de orçamento e concursos para profissionais da área – agora precisa lidar com a censura.


Como contraponto, recomendamos a leitura do index de Santa Catarina:
A Química entre Nós, por Larry Young e Brian Alexander
Coração Satânico, de William Hjortsberg
Donnie Darko, de Richard Kelly
Ed Lorraine Warren: Demonologistas – Arquivo sobrenaturais, de Gerald Brittle
Exorcismo, de Thomas B. Allen
It: A Coisa, de Stephen King
Laranja Mecânica, de Anthony Burgess
Os 13 Porquês, de Jay Ascher
O Diário do Diabo: Os segredos de Alfred Rosenberg, o maior intelectual do nazismo, de Robert K. Wittman e David Kinney

AUTOR

Ricardo Machado

Colunista convidado da FV, é doutor em história, professor na UFFS e curador da Livraria Humana, em Chapecó.
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