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10/06/2024 moda

A moda como herança sentimental

A casa da vovó e do vovô e o aconchego nostálgico

Num cenário global de inúmeras incertezas, principalmente pela crescente inserção do “virtual” da IA (Inteligência Artificial) nas relações sociais cotidianas, percebe-se um campo fértil e latente para valorizar e resgatar experiências e relações humanizadas carregadas de memórias afetivas sólidas e edificadas pelos cidadãos do mundo e “protetores do tempo”. Neste contexto, já sentimos algumas mudanças impactantes que estão transformando algumas marcas de moda que reconhecem a relevância do conceito de Herança Têxtil, Economia Criativa e Vocação Regional.

Ao entender a moda como um vetor de comunicação de expressão social intenso e significativo, que possibilita o ser humano fazer suas escolhas na maneira de vestir-se para evidenciar identidade de estilo, gostos, desejos e valores, podemos encontrar um caminho palpável sobre este assunto: a herança no modo de vestir. Considerando a herança como algo que recebemos de outrem e trata-se de um patrimônio familiar, tornamo-nos responsáveis não apenas em preservar, mas mantê-lo vivo para perpetuar em gerações futuras, dialoga tanto em questões de bens palpáveis como os aspectos culturais simbólicos e representativos das identidades pessoais, regionais e/ou nacionais. Um exemplo para compreendermos o conceito de herança no modo de vestir na moda, são alguns destaque nas últimas semanas de moda Inverno 2024. No line up de algumas marcas percebeu-se uma estética peculiar e original que revive “a roupa da vovó e do vovô”, explícitas no estilo Grandpacore (do inglês "estilo do vovô", em tradução literal), como um ponto chave para expressão de um estilo que revela nossas heranças sentimentais. O que prevalece nessas narrativas visuais são um puro sentimento de aconchego retrô, vintage e a ideia da estética que apresentam um valor sentimental. 

Nas trends das plataformas de redes sociais mais atuais, essa expressão também já vem se destacando por alguns formadores de opinião, que buscam como inspiração as vestimentas e adornos dos seus avós nos anos 60 e 70, porém com um toque atual na composição de um mix de peças vintages (casacos oversized, coletes em tricô, pulôveres, peças de alfaiataria em xadrez, cardigãs, camisa polo, meia ¾, mocassin) com peças atuais. A estratégia dessas marcas de moda é criar a conexão de um comportamento de consumo que valoriza aquilo que é sagrado e se perpetua mesmo nas adversidades do tempo.

O sentido deste código de vestir é reviver a autenticidade. As principais referências do estilo vêm de décadas passadas, nessa interpretação aparecem também os brechós e os antiquários e sua estética que mistura referências, décadas, estilos e propostas visuais de uma maneira descompromissada, produzindo, assim, combinações originais. 

O Grandpacore define um código de vestir que enaltece os clássicos atemporais em peças preciosamente feitas à mão, do crochê, tricô, patchwork ao bordado, há uma combinação diversa de técnicas em handmade. Um visual country provinciano e aconchegante, ou seja peças que de monstram que sobreviveram ao tempo por serem genuinamente únicas reforçando seu aspecto sentimental, na medida em que as roupas são passadas de geração em geração na família.

E não seria na casa da vovó e do vovô onde encontramos essas heranças têxteis afetivas em todos os aspectos sensoriais: que tem memória de sons, cheiro, cor, textura e formas, principalmente quando o assunto é feito a mão e com amor?


RACHEL QUADROS é Doutoranda em Design na UFSC, Mestre em Design pela UDESC, Coordenadora da Comissão Própria de Avaliação – CPA da Unochapecó e pesquisadora do Núcleo de Gestão em Design NGD e Laboratório de Design e Usabilidade LDU | UFSC.


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Revista Flash Vip, contando histórias desde 2003.
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